Bandha

                        Bandha significa fecho, controlo, contracção. São contracções ou compressões de plexos e glândulas. Actua sobre glândulas endócrinas e plexos nervosos e no nosso sistema têm por finalidade despertar e controlar as energias subtis que circulam no nosso corpo. Profundamente fisiológicos, criam um estado de consciência entre o ásana e o Yôganidrá.

A prática de pránáyáma é indissociável da prática de bandha e mudrá. Têm a função de controlar e guiar o prána absorvido, produzido, ou posto em circulação pelo pránáyáma.

                        Os bandha têm a função de fusíveis, ou de interruptores de segurança, que impedem curto-circuitos energéticos.

 

Jalándhara Bandha

O fecho da rede

O queixo pressiona o cimo do esterno e estes ossos ficam juntos. Fecha as 16 partes vitais (ádhára), destrói a morte. As 16 partes vitais são: polegares, tornozelos, joelhos, fémures, prepúcio, órgãos de reprodução, umbigo, coração, pescoço, garganta, palato, nariz, intercílio, testa, cabeça, fontanela (brahmarandhra).
Uddiyana Bandha

Voar; Para Cima

O Grande Pássaro é forçado a voar para cima através do sushumnâ; emancipando-se com facilidade, conquistando a morte.
Múla bandha

contracção da raiz da base

Destrói a decadência; controla o prána

 

 

Jalándhara Bandha

O Fecho da Rede

 

                        Consiste na compressão do queixo sobre o peito, na zona da depressão jugular, a cavidade da união das clavículas. É citado no Yôga Chudamani Upanishada, Shiva Samhita, Hatha Yôga Pradipika e Yôga Mimansa e no Ghêranda-Samhita.

Protege o cérebro da desoxigenação. Desde que bem feito fecha as artérias carótidas e as veias jugulares, permitindo que o sangue arterial fique no cérebro, que, não obstante ser o maior consumidor de oxigénio do nosso corpo, em repouso não consome quase nenhum. Como a grande circulação também não se faz, o sangue que fica no cérebro é suficiente para protegê-lo. As zonas baixas, maxime as pernas, também consomem muito pouco oxigénio, tal como já vimos acima, quando tratamos o ásana.

Evita o congestionamento do rosto. As grandes pressões internas, provocadas pela absorção de 5,5 l ar são mantidas abaixo da epistole evitando-se assim prováveis lesões no canal auditivo, trompa de eustáquio, cóclea. Para se conseguir máxima compressão este bandha deve ser acompanhado de jíhva bandha, que trataremos abaixo.

A finalidade do pránáyáma é a ausência da respiração, num estado de auto-suficiência, que só se atinge com a diminuição das funções vitais. Ora acontece que durante as retenções o batimento cardíaco aumenta, o que não deveria acontecer. Os batimentos deveriam diminuir e estabelecer-se um ritmo poderoso, mas lento. Porém o sistema simpático aumenta o ritmo cardíaco, o impulso respiratório e o metabolismo basal. Parece então que o que conseguiríamos com o kúmbhaka seria o contrário do que se pretenderia. Se assim fosse não passaríamos de aprendizes de feiticeiro.

                        Este bandha alonga as vértebras cervicais e a espinal medula. O que conduz à compressão do bolbo céfalo raquidiano onde se inicia o nervo vago, pneumogástrico, o principal nervo parassimpático, parte integrante do sistema nervoso autónomo. O gânglio plexiforme também é comprimido, e deste parte o ramo cardíaco-cervical do nervo vago. Assim desencadeia-se uma acção reflexa de diminuição das funções vitais e do batimento cardíaco.

Ora o estímulo do bolbo raquidiano, centro de comando respiratório, localizado por cima da medula oblonga na base do tronco cerebral, reage à condição psicofisiológica global que ocorre no sádhaka. Assim reage ás variações do ph do sangue, às variações do CO2, às variações de O2, às diferenças de pressão sanguínea. Adapta a respiração às condições internas e externas existentes, determinando uma diminuição das funções vitais, aumenta as secreções gástricas. Consegue-se um estado pré-comatoso de modo consciente. Desta forma inicia-se o reflexo de mergulho, em que as pulsações baixam de 70 por minuto para 12 por minuto. O sangue é retirado de outros órgãos para ser concentrado no coração e no cérebro, suprindo assim as necessidades destes órgãos. O oxigénio contido nos músculos é libertado e o metabolismo altera-se. O organismo começa a decompor o açúcar existente no sangue, produzindo ATP e ácido láctico. A temperatura corporal sobe por falta de ventilação. Os pulmões entre outras cumprem uma função de regulador térmico do corpo, ventilando-o. Durante uma retenção essa função não é cumprida. A respiração celular é estimulada, com consequente aumento e libertação de energia. O corpo transpira devido à degradação de ATP, que produz imenso calor.

A respiração celular é um estimulante geral do nosso organismo. Rejuvenesce e aumenta o período de juventude saudável, diminuindo o período de velhice senil.

Para além do fenómeno já descrito ainda há a considerar a cavidade jugular onde se localiza o sinus carotidiano, local onde a carótida se bifurca, seguindo depois uma pelo lado esquerdo, outra pelo lado direito do pescoço.

Do sinus carotidiano saem nervos, barorecpetores, isto é, terminações nervosas sensíveis à pressão, que, comprimidos, modificam a actividade do cérebro e o estado de consciência. Determinados estados de consciência alterada, só passíveis de ser alcançados com grande prática de meditação, podem ser «facilmente» alcançados com este bandha. Toda a compressão nesta zona produz, por via reflexa uma diminuição da tensão arterial, dos batimentos cardíacos e da respiração, pois estas fibras nervosas estão ligadas ao sistema parassimpático, que tem sobre estas funções a acção de refrear.

Em termos energéticos o jalándhara bandha transforma prána em apána.

 

Uddiyana Bandha

Voar; Para Cima

 

Este bandha é citado pelo Ghêranda-Samhita.

O processo de uddiyana bandha, consiste em elevar, por sucção, o diafragma e pressionar os órgãos abdominais contra a coluna vertebral. É executado com uma participação intensa dos grandes rectos e do diafragma. Modifica a forma da caixa torácica que se eleva ao máximo e se abre. O vértice do triângulo inverte-se. Os pulmões desenhavam um triângulo com o vértice para cima, Com esta contracção este inverte-se e o vértice fica em baixo.

Devido às diferenças de pressão que se exercem sobre o abdómen neste bandha, o sangue venoso é devidamente drenado através da veia cava inferior. O diafragma cumpre assim a sua função de «coração venoso», auxiliando o músculo cardíaco.

Quando a kundaliní desperta e entra em sushumná, em conjunto com apána que inverteu a sua polaridade, junta-se ao fogo, agni, do manipura chakra onde se localiza samána váyu. Desta forma há uma alteração quantitativa e intensa no nível de energia, que permite à kundaliní continuar a elevar-se e atingir os chakra superiores. Com o que o sádhaka conseguirá estados de consciência alterada: dhyána – hiperlucidez; samádhi – megalucidez.

Se for estático é tamas uddiyana bandha. Se for dinâmico é a variante rajas uddiyana bandha.

 

Múla Bandha

Contracção da Raiz da Base

 

Esta contracção é citada pelo Gheranda-Samhita.

Consiste numa forte contracção dos dois esfíncteres anais. Mas na verdade, pelo menos no início, enquanto o sádhaka é incapaz de fazer dissociação muscular entre os esfíncteres anais e a musculatura pélvica, esta contracção também contrai os músculos dos órgãos genitais. Desta forma permite à mulher um grande domínio sobre os músculos vaginais e nos homens aumenta a potência sexual e ajuda a controlar a ejaculação. Mas a este tema voltaremos mais tarde.

Em termos energéticos este bandha fecha uma das saídas de energia do corpo e transforma apána em prána. Estimula e empurra kundaliní para cima. Acorda o múládhára chakra. Abre também a entrada de sushumná nádí (brahmá dvara) obstruída pela cabeça da adormecida Kundaliní.

Localizado na zona sacra, encontra-se uma parte do parassimpático, desligada do principal, atrofiada, antiga, ligada às funções ancestrais do paleocórtex, às funções animais de sobrevivência e reprodução – o parassimpático pélvico.

Estimula também o corpo de Luschka, pequena glândula localizada na extremidade do cóccix.

É difícil agir de modo consciente sobre este nervo. Mas com o múla bandha podemos fazê-lo.

Do parassimpático saem fibras nervosas vasodilatadoras, que estimulam e controlam o funcionamento do cólon descendente, do ânus, e da bexiga, zona do apána. Outras, vasodilatadoras, vão para o pénis e para o clítoris e a vulva. Também estimulam as glândulas sexuais.

Pelo que a execução deste bandha é importantíssima.

Múla bandha adquire a designação de rajas múla bandha [1] sempre que os esfíncteres anais são contraídos e descontraídos com ritmo e sucessivamente.

À contracção chama-se acuncana, e prakashana à descontracção.

O rajas múla bandha fortalece a musculatura pélvica, impedindo ou eliminando hemorróidas e fissuras anais.

Se múla bandha estiver bem executado o sádhaka deve sentir uma vibração interna desde os genitais até ao umbigo. Mais tarde poderá senti-la quase até ao coração e inclusive até à garganta.

 

Bandha Traya

 

                        Bandha traya significa – três bandha. Se juntarmos os três bandha anteriores, praticando-os conjuntamente e executados um após o outro na ordem indicada – múla bandha, uddiyana bandha e jalándhara bandha, – temos o bandha traya, os três bandha.

                        É durante a execução de bandha traya e kúmbhaka, que apána e prána váyu se equilibram, que a energia deixa de circular por idá e píngala nádí, para subir e circular pela nádí do fogo, pela nádí ígnea, sushumná.

 

Jíhva Bandha

 

                        Para executar este bandha o sádhaka deverá iniciar uma deglutição. A musculatura accionada sobe. No ponto mais alto o sádhaka não a conclui. Aí tem a língua a pressionar o céu da boca e a ulva. E é nisto que consiste este bandha.

                        A glândula pineal é estimulada por massajamento reflexo, isto é, é comprimida pelo aumento da pressão intracraniana.

Também poderá ser utilizado por si e não como complemento do jalándhara bandha. Acontecerá quando o sádhaka estiver impossibilitado temporária ou permanentemente de executar o jalándhara. Neste caso deverá executá-lo com a cabeça tombada para trás e a língua a pressionar o céu da boca e a ulva. Ou ainda quando quiser fazer retenção em algum ásana que não permita comprimir o queixo contra a cavidade que fica imediatamente acima do externo, como seja em bhujangásana ou em padma shirshásana.

 

 

(C)Copyright, João Camacho, Yôgachárya

 

[1] Algumas escolas chamam-lhe asvini mudrá. E fazem-no porque asvini significa égua, que após expulsar o excremento, contrai e descontrai diversas vezes o anus. Mas mudrá é gesto feito com as mãos. Então um movimento anal não pode ser mudrá. Daí que no Yôga antigo não adoptemos essa nomenclatura, mas sim a proposta, visto que do que se trata é do mula bandha, feito com movimento (rajas).

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