Programa de Estudos do Curso de Formação de Instrutores de Yôga

O programa de estudos permite-nos delimitar a área a tratar, determinada pelo objectivo de estudar o Yôga e abordar domínios do pensamento hindu que constituem uma certa e determinada estranheza cultural, não só pelas diversas categorias mentais de que se socorre, mas também, com a própria dificuldade do idioma técnico do Yôga – o sânscrito.

Neste programa, obter-se-ão noções básicas de pronúncia do sânscrito e serão apresentadas boas traduções de obras indispensáveis.

O programa responderá à necessidade de preparar o futuro instrutor de Yôga com um nível de excelência. Mas também lhe dará as ferramentas para que consiga alcandorar-se ao processo iniciático, logo transformador, onde se propõe a dissolução das barreiras do ego, no sentido de mais facilmente se aceder ao intuitivo, ou seja, ao conhecimento que provém do interior, para o qual a informação exógena é apenas instrumental.

O processo iniciático, no qual este curso é uma fase importante, deve resultar de um acto de vontade do discípulo. Vontade dinamizada pela meditação, como ponto culminante do abhyása – prática diligente. Vontade que deve transfigurar o sádhaka fazendo-o transitar para outro estado de consciência – o da anamnese[1]. Também por si, a palavra iniciação, na sua origem etimológica, provém de in ire – ir para dentro de si. Nesse estado é possível recordar as origens, recordar os princípios arquetípicos e recordar os arcanos da arte, dentro de si próprio. Assim, pode dizer-se do Iniciado, que é aquele que se recorda. Assim o ensina Pátañjali, na obra Yôga Sútra. Assim o ensina Shrí DeRose, que afirma que, nessas condições, o iniciado continua a ter esta aparência “mas já não é humano”.

O Iniciado torna-se um Portador da Luz, um Portador do Fogo. Luz e Fogo da gnose. Por isso os iniciados são aparentados, nestas nossas terras da Lusitânia, aos dragões. Por isso são tidos como sábios, como as corujas. Pois irradiam a luz do conhecimento à sua volta. Esperando com isso afastar as Trevas. Portando em si o fogo. E tendo sempre o secreto receio de cegar, pela luminosidade, os que o olham. O Iniciado é o que trilha o seu caminho, de modo deliberado e consciente e não pela graça de entidade alguma. Procurado em si, o que outros procuram no exterior. Este caminho pelo interior é o que o Yôga e o Oriente propõem. Mas também no Ocidente recente, pelo menos desde Santa Hildegarda de Binden[2], no sec. XII, ou Agrippa[3] ou Paracelso[4], no sec. XVI, que o ser humano é visto como contendo em si a súmula das energias do Universo.

[1] Recordação, reminiscência. É um essencial conceito da filosofia de Platão. Ainda que cativa do corpo a consciência pode, através de um processo de introspecção, recuperar conhecimento anteriormente perdido.

[2] Santa Hildegarda de Binden, (1 098 – 1 179), uma das mulheres mais relevantes do seu tempo na Europa. Era uma mística católica, monja beneditina, distinguiu-se no seu tempo, como teóloga, compositora, naturalista, médica, poetisa.

 

[3] Heinrich Cornelius Agrippa (1 486 – 1 535)foi um relevante homem da renascença. E o mais influente escritor de esoterismo da renascença. Escreveu a mais completa e abrangente obra sobre magia e artes ocultar: Três livros da filosofia oculta.

[4] Paracelso é o pseudónimo de Phillipus Aureolus Theophrastus Bombastus von Hohenheim, (1 493 – 1 541) foi médico, alquimista, físico e astrólogo. Outra grande figura do renascimento. Alguns chegam a considerá-lo o fundador da bio-química.

 

O programa é o seguinte:

 

1.   O Sânscrito: algumas noções básicas de pronúncia e de transliteração.

  1. o termo Yôga
  2. o significado do vocábulo Yôga
  3. a importância de assumir uma atitude definida
  4. (ÔM) – Símbolo universal do Yôga

 

2.   Cronologia histórica do Yôga.

O Yôga teve a sua origem na Índia, ou melhor, no território hoje ocupado por ela. De facto, essa nação ainda não existia. No tempo, situa-se há 5 000 anos. Culturalmente, localiza-se na civilização harappiana ou dravídica, que se expandiu a partir do Vale do Rio Indo. Ao longo de cinco milénios, o Yôga sofreu inúmeras mutações. Vamos estudá-las.

Mestre DeRose, Origens do Yôga Antigo, p. 47

  1. os dois grandes grupos: Yôga Antigo e Yôga Moderno.
  2. o Yôga Pré-clássico (Tantra-Sámkhya)
  3. o Yôga Clássico (Brahmachárya-Sámkhya)
  4. o Yôga Medieval (Brahmachárya-Vêdánta)
  5. o Yôga Contemporâneo (Tantra-Vêdánta)
  6. o Yôga do III milénio (Tantra-Sámkhya)
  7. os shástra

 

3.   A árvore do Yôga.

  1. as raízes antigas.
  2. o tronco mais autêntico.
  3. os primeiros ramos de Yôga.
  4. as subdivisões e combinações.

 

4.   O SwáSthya Yôga.

Nossa linhagem é naturalista, técnica, sensorial e desrepressora. Sua denominação ortodoxa em sânscrito é Dakshinacharatantrika – Niríshwarasámkhya Yôga. Isso quer dizer que repudiamos o misticismo, cultivamos o corpo e enaltecemos o prazer, o conforto, o bem-estar e a liberdade. Celebramos a descontracção, a alegria, a sexualidade sadia, a prosperidade, o sucesso sócio-económico. Execramos a repressão, a alienação e as lavagens cerebrais perpetradas por umas quantas filosofias que se declaram afins com o Yôga, conquanto, na verdade, não o sejam.

Nossa estirpe é a mais antiga, Seguimos a tradição pré-clássica, pré-ariana, pré-vêdica e proto-histórica. Por ser a mais antiga, reputamo-la como a mais autêntica. De qualquer forma é, de longe, a mais completa que existe. Por isso, o SwáSthya Yôga é qualificado como o Yôga Ultra-Integral.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 61.

 

Swásthya, em sânscrito, língua morta da Índia, significa auto-suficiência (swa = seu próprio). Também embute os significados de saúde, bem-estar, conforto, satisfação. Pronuncia-se “suástia”. Em hindi, a língua mais falada na Índia, significa simplesmente saúde. Nesse caso, com o sotaque hindi, pronuncia-se “suásti”. Não permita que pessoas pouco informadas confundam Swásthya, sânscrito, método antigo, com Swásthya (“suást”), hindi, que daria uma interpretação equivocada com conotação terapêutica.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 61.

 

  1. como se escreve em dêvanágari.
  2. como se pronuncia
  3. qual a tradução em sânscrito e em hindí.
  4. divisões ortodoxa e heterodoxa
  5. características:

Ashtánga sádhana

– regras gerais de execução

– sequências coreográficas

– trabalhar com um público-alvo identificado.

– sentimento gregário.

– seriedade superlativa.

– alegria sincera.

– lealdade inquebrantável.

  1. O ashtánga sádhana, prática em oito partes.
  2. O ashtánga yantra – símbolo do SwáSthya Yôga.

 

5.   Ashtánga sádhana, a prática em 8 partes.

A característica principal do SwáSthya Yôga é a sua prática ortodoxa denominada ashtánga sádhana (ashta = oito; anga = parte; sádhana = prática). Trata-se de uma prática integrada em oito partes, a saber: mudrá, pújá, mantra, pránáyáma, kriyá, ásana, yôganidrá, samyama. Estes elementos são explicados em detalhe no livro Faça Yôga Antes que Você Precise.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 61.

 

  1. mudrá (gesto reflexológico feito com as mãos).
  2. pújá (retribuição ética de energia)
  3. mantra (vocalização de sons e ultra-sons)
  4. pránáyáma (expansão da bioenergia)
  5. kriyá (actividade de purificação de mucosas)
  6. ásana (técnica corporal)
  7. yôganidrá (técnica de relaxação)
  8. samyama (concentração, meditação e samádhi)
  9. a razão de ser desta ordem
  10. as relações de função entre os anga
  11. os restantes ashtánga sádhana

 

6.   Como montar uma prática.

  1. As quatro informações básicas que o instrutor dever dar (número de ordem, nome sânscrito, tradução, definição).
  2. quanto tempo é necessário para transmitir essas quatro informações nos oito anga, em uma aula de 1 hora.
  3. como se faz a abertura e o encerramento de uma prática de SwáSthya Yôga.
  4. a razão das pernas cruzadas.

 

      6.1. Balanceamento dos ásana na montagem de uma prática.

  1. quais são os critérios de selecção.
  2. quantos exercícios, no mínimo, por sessão
  3. a lei da compensação
  4. passagens e montagem coreográfica da série
  5. os tipos de permanência

 

7.   A estrutura do método do Yôga Antigo.

 

O MÉTODO CONSISTE EM TRÊS ETAPAS

 

  1. A etapa inicial – tem por objectivo preparar o praticante para suportar o empuxo evolutivo que ocorrerá na fase final. O resultado desse preparo prévio, é o reforço da estrutura biológica com um aumento sensível e imediato da vitalidade.
  2. A etapa medial – tem por objectivo a purificação mais intensiva e energização da sexualidade.
  3. A etapa final – tem por objectivo despertar a energia kundaliní, com o consequente desenvolvimento do chakras, seus poderes paranormais e, finalmente, a eclosão da hiperconsciência chamada samádhi.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 67.

 

8.   Métodos de aula

  1. demonstrando e descrevendo (duas variedades)
  2. só demonstrando
  3. só descrevendo (três variedades)
  4. prática com ficha (duas variedades)
  5. aula gravada (três variedades)
  6. treinamento (8 variedades)
  7. práticas suplementares
  8. cursos eticamente viáveis:

– flexibilidade

– fortalecimento e definição muscular

– alimentação biológica

– meditação

mantra

kriyá

– e outros similares

 

9.   O que é o Tantra

O termo Tantra significa: regulado por regra geral; o encordoamento de um instrumento musical; tecido ou teia, ou a trama do tecido. Outra tradução é “aquilo que esparge o conhecimento”. Ou ainda, segundo Shivánanda, explica (tanoti) o conhecimento relativo a tattwa e mantra, por isso se chama Tantra. Não podemos ignorar q correlação etimológica sugerida pela frase vakrat vak tantraram, que designa a tradição boca-a-ouvido.

Tantra é o nome dos antigos textos de transmissão oral (param-pará) do período pré-clássico da Índia, portanto, de mais de 5.000 anos. Mais tarde, alguns desses textos foram escritos e tornaram-se livros ou escrituras secretas do hinduísmo. Naquela recuada época de origem do Tantra, a Índia era habitada pelo povo drávida, cuja sociedade e cultura eram matriarcais, sensoriais e desrepressoras. Por isso, diz-se que eram um povo tântrico, já que essa filosofia é caracterizada principalmente por aquelas três qualidades. Aliás, isso é uma noção amplamente divulgada e universalmente aceite.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 118.

 

  1. qual a proposta do Tantra
  2. o conceito matriarcal, sensorial e não repressor
  3. diferenças entre Tantra e Brahmachárya
  4. as origens do Tantra
  5. as três linhas tântricas
  6. as sete escolas tântricas
  7. via húmida e via seca (com ou sem contacto sexual)
  8. posição da mulher e do homem no tantrismo

 

10. Bhúta shuddhi e maithuna

 

É a etapa de purificação intensiva do corpo e seus canais de prána, as nádís. Na terceira parte do ády ashtánga sádhana (o anga mantra), e depois na quinta parte (o anga kriyá), já demos os primeiros passos nessa tarefa. Trata-se agora de especializar e aprofundar a purificação, não apenas com mantras, kriyás, pránáyámas, mas também com uma rígida selecção alimentar, jejuns regulares moderados e com um sistema de reeducação das emoções para que o praticante não conspurque seu corpo com os detritos tóxicos das emoções viscosas como o ódio, a inveja, o ciúme, o medo, etc. Também tratamos de regular a quantidade de exercício físico, de trabalho, de sexo e de alimentos. Há uma medida ideal para cada um desses factores. Qualquer excesso ou carência pode comprometer o resultado almejado.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 73.

 

Uma vez obtido o grau desejado de purificação, sempre cultivando a prática do ashtánga sádhana, chegamos à parte mais fascinante do currículo tântrico: a alquimia sexual. Evidentemente, nenhuma obra ensina as técnicas do maithuna, pois pertencem à tradição chamada gupta vidyá ou ciência secreta. O que se encontra nos livros são informações falsas e fantasiosas para iludir os curiosos. É preciso procurar um Mestre autêntico que aceite transmitir pessoalmente esse conhecimento. Os poucos instrutores que de fato conhecem tais técnicas, também evitam ensiná-las uma vez que a maior parte das pessoas não tem maturidade e nem sensibilidade suficientes para merecer essa Iniciação.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, pp. 74 e 75.

 

  1. bhútha shuddhi, a purificação dos elementos
  2. a importância da limpeza das nádí
  3. maithuna, técnica sexual de energização
  4. o Tantra propõe monogamia?

 

11. Kundaliní, nádí, chakra e siddhi 12. Mudrá 13. Pújá 14. Mantra 15. Pránáyáma 16. Kriyá 17. Ásana 18. Yôganidrá 19. Samyama

  1. o que é a meditação
  2. o lótus da meditação

– as raízes no lodo (elemento terra): pratyáhára

– o caule no elemento água: êkagrata, dhárana

– os ramos (dispersões intelectivas/auto-hipnose)

– as pétalas (chitta) abrindo-se no elemento ar: váyu

– a energia do lótus recebida do Sol: agni

– a superfície do lago (chittavritti) e o seu fundo (púrusha)

– a fórmula do conhecimento intelectivo 3 + 3 = 6

– a fórmula do conhecimento intuitivo 0 + 0 = ∞

20. Karma, dharma e egrégora

Egrégora provém do grego egrégoroi e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionas e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. Todos os agrupamentos humanos possuem suas egrégoras características: todas as empresas, clubes, religiões, famílias, partidos, etc.

Egrégora é como um filho colectivo, produzido pela interacção “genética” das diferentes pessoas envolvidas. Se não conhecermos o fenómeno, as egrégoras vão sendo criadas a esmo e os seus criadores tornam-se logo seus servos já que são induzidos a pensar e agir sempre na direcção dos vectores que caracterizam a criação dessas entidades gregárias. Serão tanto mais escravos quanto menos conscientes estiverem do processo. Se conhecermos sua existência e as leis que as regem tornamo-nos senhores dessas forças colossais.

Mestre DeRose, Yôga. Mitos e Verdades, p. 102.

 

21. O sistema alimentar do Yôga 22. O Mestre e o discípulo na tradição oriental

  1. qual é a relação entre Mestre e discípulo
  2. discípulo não questiona
  3. a liberdade
  4. a instituição do guru sêva
  5. a fase do parampará
  6. a conquista do kripá, o toque do Mestre

23. O hinduísmo e as escrituras

  1. as culturas paralelas (vaidika e a tantrika)
  2. as duas divisões da vaidika (Shruti e Smriti)
  3. os Shástra
  4. os Tantra
  5. os quatro Vêdá e as suas divisões
  6. os Upanishad
  7. os Itihasa (Ramayana, Mahá Bhárata, Bhagavad Guitá)
  8. os Purána (crónicas e lendas populares)
  9. os Agama (Shaiva, Shakta e Vaishnava)
  10. os Sútra
  11. as quatro castas (varna)
  12. as múltiplas línguas, etnias e religiões

 

24. O Yôga Clássico

  1. os outros nomes do Yôga Clássico
  2. Pátañjali, o codificador do Yôga Clássico
  3. o livro Yôga Sútra
  4. a polémica sobre a época (séc. III a. N. e. ou IV)
  5. Pátañjali fez uma das várias codificações
  6. a deturpação ariana – a proposta comportamental brahmachárya
  7. a constituição óctupla (Ashtánga Yôga)

25. Corpos do homem e Planos do Universo 26. Sámkhya e cosmogonia 27. Iniciação ao  (ÔM)

  1. como se traça o ÔMKARA
  2. o traçado da nossa estirpe
  3. sete maneiras de pronunciar o pránava e os seus efeitos:

– o ÔM que facilita a meditação

– o ÔM que desenvolve a paranormalidade

– o ÔM que desenvolve o ajña chakra

– o ÔM que acumula força sem deixá-la escapar

– o ÔM que transmite força a uma pessoa ou objecto

– o ÔM que reforça a egrégora

  1. a autorização para incorporar o ÔM à assinatura.
  2. a proporção correcta do ÔM na assinatura
  3. os efeitos de traçar o ômkara (likhita mantra) com a assinatura
  4. utilizar o ÔM com a assinatura é praxe do SwáSthya Yôga

28. A sala de prática

 

Bibliografia.

DICIONÁRIO DE SÂNSCRITO RECOMENDADO:

Monier-Williams (Oxford University), Sanskrit-English Dictionary

 

PRIMEIRA BIBLIOGRAFIA (específica).

SEGUNDA BIBLIOGRAFIA (geral, diversas linhas e ramos):

TERCEIRA BIBLIOGRAFIA (para aprofundar o estudo):

QUARTA BIBLIOGRAFIA (literatura hindu, que deve ser lida, de preferência, no original):

BIBLIOGRAFIA LEIGA (livros que não são de Yôga, mas cuja leitura recomendamos):