Sámkhya por João Camacho, Yôgachárya

                  Os homens infantis proclamam que o Sámkhya

                                    e o Yôga são dois caminhos separados,

                         mas não os mestres: quem seguir um deles,

                                com correcção, alcança o fruto d’ambos.

                      O alvo, que os adeptos do Sámkhya atingem,

                                   esse é também o mesmo alvo do Yôga.

                                        Sámkhya e Yôga são um todo único:

                           quem vê desta maneira, pensa com acerto.

 

                                                                                                 Bhagavad Guitá, V-4,5.

 

O sámkhya é um sistema filosófico que fundamenta o Yôga. Antes de mais é pertinente explicar que não existe em sânscrito uma palavra que designe “filosofia”. Encontram-se termos como tarka-shástra, as ciências da consciência, ou mais comummente, darshana. Com uma muito maior consciência da relatividade da proposta filosófica, com uma muito maior humildade, possuem seis grandes sistemas filosóficos. Contudo chamam-lhes darshana, isto é, ponto de vista. Este termo significa ‘visão’, ou ‘ponto de vista’ de ser interessante que os defensores dos vários sistemas assumam que aquilo que defendem poderá não ser a verdade sobre a metafísica, mas apenas um darshana, um ponto de vista. Não são métodos totalmente especulativos, pois procuram basear-se numa experiência do transcendente. Há seis sistemas ortodoxos e alguns heterodoxos. Os ortodoxos são:

 

– Yôga Tendência naturalista. Duas das mais antigas tradições da Índia Não se socorrem do conceito de Deus para explicar a origem do Universo.
– Sámkhya
– Nyáyá, Considerados sistemas científicos. Estas duas escolas estão quase extintas não possuindo seguidores.
– Vaishêshika
– Mímánsá (Purva-Mimansa) De tendência teísta. Recorrem ao conceito de Deus para a explicação da cosmogénese.
– Vêdánta (Uttara-Mimansa)

 

Vêdánta – O sistema Vêdánta baseia-se nos Upanishad e significa o «final dos Vêda». E, em resultado da reflexão dos seus vários codificadores, tem sido alterado ao longo dos séculos. Foi codificado por Bádáráyana, através do Vêdánta-Sútra e dividiu-se em três grandes escolas: Advaita Vêdánta, de Shankara; Vishitadvaita Vêdánta, de Rámanuja; e Dvaita Vêdánta, de Madhava. É uma escola filosófica monista, que se baseia no sobrenatural para a explicação do mundo fenoménico. É ainda hoje o mais importante sistema filosófico na Índia.

Mimansa – O Mimansa, que significa investigação ou exame é um sistema fundamentalista e o mais conservador dos darshana. Jaimini o seu codificador promete a salvação de «todos os que praticarem os ritos e obedecerem à lei» in Antônio Renato Henriques, Yôga e consciência., p. 49. Faz uma interpretação literal do que se encontra escrito nos Vêda, o que a torna na mais conservadora das escolas filosóficas indianas, a ponto de ser considerada por alguns autores de «movimento reaccionário» in Antônio Renato Henriques, idem, p. 49, ou «a mais reaccionária das seis escolas filosóficas» indianas, in Sérgio Santos, Yôga, Sámkhya e Tantra, pg. 45.

Nyáya – O Nyáya surgiu no séc. VII a. C. com a obra Nyáya-Sútra, de Gautama. Significa análise e baseia-se no raciocínio lógico-formal, possuindo o seu silogismo cinco proposições. A libertação ocorrerá através do discernimento do falso do verdadeiro, o que só se torna possível através da aplicação dos métodos da lógica, da ciência do raciocínio discursivo. Esta posição vem a ser criticada por Pátañjali, quando este afirma que o testemunho correcto não conduz à libertação.

Vaishêsikha

O Vaishêsikha é um sistema atomista, semelhante ao de Demócrito. Tem como seu fundador Kanada e surgiu no séc. III a. C. A obra de Kanada é o Vaishêsikha-Sútra. Tendo também a reflexão filosófica como ponto de partida, este sistema porém defende que o homem só se libertará através da prática do Yôga. Este é um sistema atomista. Para o Vaishêsikha «todas as coisas compõem-se de partes indivisíveis, tão diminutas que isoladamente são sem dimensão e invisíveis, sendo passíveis de percepção apenas quando agrupadas.» Antônio Renato Henriques, ibidem, pg. 52. Estas ideias também não são estranhas ao Sámkhya. Para este sistema filosófico, o átomo, a parte indivisível e invisível das coisas chamava-se una. Quando se agrupavam, surgiam as moléculas, paramuna.

 

Para além destes seis sistemas há outras escolas, heterodoxas, como o Tantrismo, o Jainismo, o Budismo, entre outras.

Todas partem do princípio de que o homem sofre por ignorância da sua condição ontológica. Daí que todas elas sejam caminhos gnósticos que apostam na tomada de consciência. Claro que se referem a ignorância de ordem metafísica.

O Sámkhya e o Yôga são consideradas as duas doutrinas mais antigas. O Mahabhárata chama-lhes as duas doutrinas eternassanatanê dwê.

 

 

Sámkhya e o Yôga

doutrinas eternas – sanatanê dwê.

 

Sámkhya-Yôga

 

Antes de mais há que estabelecer algumas distinções conceptuais. Samkhyá  significa número, descrição matemática, enumeração, inventário ou ainda classificação perfeita. Por sua vez sámkhya significa “conhecimento perfeito”. O radical desta palavra, KHYÁ, exprime o acto de conhecer. O prefixo exprime a ideia de perfeição, integração, donde “conhecimento perfeito”. Pela sua relação com a palavra número, entende-se que sámkhya é também associado à ideia de descrição numérica, pois em verdade apresenta a cosmogénese em 24 princípios. Ou seja enumera o real e procura conhecê-lo e percebê-lo através da numeração dos seus princípios constituintes.

 

Pode dividir-se a história do sámkhya em 3 períodos:

 

1 – O sámkhya pré-clássico de característica niríshwara. É também designado por sámkhya shivaista e é muito mais amplo e abrangente do que o sámkhya clássico. É o sámkhya original (maulikya).
2 – O sámkhya  clássico de características sêshwara sámkhya.
3 – O sámkhya tardio uttara.

 

A palavra sámkhya terá sido adoptada por Kápila, uma personagem semi-mítica a quem se atribui alguns feitos lendários. Consta que terá sido iniciado pela própria mãe, nas margens do Ganges. O próprio Mahabhárata refere os míticos poderes de Kápila. Um certo Chakravartin chamado de Sagará, tinha setenta mil filhos. Um dia em que, todos eles, cavalgavam como guarda armada do cavalo sacrificial de seu pai, viram o cavalo desaparecer, repentinamente, sumindo-se na terra. Começaram a cavar o local em que ele havia caído. Por fim, a grande profundidade, já no mundo subterrâneo, encontraram o cavalo ao lado de um rishi que meditava. Os setenta mil guerreiros/irmãos que procuravam o cavalo ignoraram o sábio, não lhe prestando a homenagem que lhe era devida. Então este, com um relâmpago saído dos olhos, fulminou-os, reduzindo-os a cinzas. A estes poderes solares, o poder de queimar, de matar, mas também de purificar, que é próprio de Súrya , faz referência o nome do sábio, já que Kápila, significa o “vermelho”. Não se sabe ao certo em que época viveu Kápila ou se foi uma personagem histórica ou apenas um mito.  De acordo ainda com a lenda, Kápila transmitiu o sistema a Asuri, este a Panchashika, que por sua vez o transmitiu a Ishwarakrshna.

 

O sámkhya descreve e ordena a estrutura do cosmos e do Homem.

 

O sámkhya é uma filosofia:

 

                        – racionalista,

materialista e

naturalista

 

que terá influenciado os racionalistas da Antiguidade Grega. Neste sentido, afirma Barahona [1], tornar-se “pertinente indagar se a lendária viagem de Platão à Índia (….) não está na base de uma flagrante analogia entre o darshana do Sámkhya (….) e o ponto de vista do filósofo grego…”.

 

Posição em que é acompanhado por Antônio Renato Henriques [2], que defende, de modo ainda mais veemente, haver uma

 

imensa influência do Sámkhya sobre (….) escolas filosóficas gregas (….). Na antiguidade alguns textos Sámkhya foram traduzidos para o chinês e nas filosofias gregas encontramos muitos elementos de provável origem Sámkhya, provavelmente em Demócrito, Pitágoras, Heráclito e Platão.

 

O Sámkhya e o Yôga estão intimamente ligados, tal como o ensina o Bhagavad-Guitá:

 

«Os homens infantis proclamam que o Sámkhya

e o Yôga são dois caminhos separados,

mas não os mestres: quem seguir  um deles,

com correcção, alcança os frutos d’ambos.

 

O alvo, que os adeptos do Sámkhya atingem,

esse é também o mesmo alvo do Yôga.

Sámkhya e Yôga são um todo único:

quem vê desta maneira, pensa com acerto.»

 

Bhagavad-Guitá, V, 4 e 5.

 

A teoria da escola Sámkhya é a teoria da evolução. Para este sistema filosófico a origem do universo é um acto psíquico. Todos os fenómenos, tanto exteriores ao homem como aqueles que são psico-fisiológicos têm uma e mesma origem, a mesma matriz. A diferenciação ocorre por via do grau e não da essência, da substância, pois esta é comum ao homem e a todo o Cosmos. A prakrutí desenvolve-se progressivamente, produzindo formas e organismos quase infinitos, que na sua essência são iguais entre si. O que os distingue são os guna, as três qualidade universais: sattva, rajas, tamas.

 

Para o sámkhya, a causa causada manifesta-se na forma de prakrutí, substância primordial e princípio de toda actividade – toda a praxis transformadora lhe pertence. Actua através das suas três qualidades, constituintes de tudo o que existe. Estes três elementos são a prakrutí, do mesmo modo que três fios entrelaçados são uma corda.

 

O guna tamas representa a inércia, a força descendente, inacção, imobilidade. O guna rajas é a força de expansão horizontal, dinâmica, actividade, desejo, paixão, dor, oposição. O guna sattva é a força ascendente de crescimento, representa a sublimação das anteriores, no plano humano é similar ao samádhi. Tanto a qualidade sattwa como o samádhi representam o fim dos contrários, a coincidentia oppositorum.

 

Como ensina Eliade [3], o sattva predomina

 

«nos fenómenos psico-mentais, o rajas nos fenómenos psico-fisiológicos (paixão, actividade dos sentidos, etc.), enquanto os fenómenos do mundo material são constituídos pelos produtos cada vez mais densos e inertes do tamas (átomos, organismos vegetais e animais, etc.). Com esse fundamento fisiológico, compreende-se por que o Sámkhya-Yôga considera toda a experiência psíquica como um simples processo «material». A moral ressente-se disso: a bondade, por exemplo, não é uma qualidade do espírito, mas uma “purificação” da “matéria subtil” representada pela consciência».

 

O objectivo do sámkhya também é a libertação do homem através da elevação dos níveis de consciência.

 

O sámkhya antigo tem 24 tattva (princípios), que a seguir se mencionam, que fazem parte dos 36 tattva do Tantra [4].

 

O sámkhya considera que há algo de imutável, o ser, a que apelida de Púrusha. É a causa incausada. É o que permanece. É o que está para além da própria dualidade, do manifestado e do não manifestado. É o princípio da consciência.

 

O púrusha é a consciência testemunho, sákshin. Contempla a praxis transformadora da prakrutí, sempre consciente, sempre pronto para a acção, mas sem nunca participar dela. Não está sujeito às alterações da dualidade, dos contrários, da acção concertada dos guna.

 

O púrusha é a influência que provoca a acção de prakrutí no início de um ciclo cósmico. Esta repousa na indiferenciação primordial. Mas aquele quebra, pela sua presença, o equilíbrio dos triguna, presidindo assim à emergência de um novo Universo, até à sua dissolução total.

 

O púrusha é o motor imóvel de Aristóteles. Age como um «íman que, permanecendo imóvel, põe em movimento as partículas de ferro.»[5]

 

A palavra púrusha significa homem.

 

Contém os seguintes 24 tattva:

 

  1. Prakrutí, a dualidade original.

Ou seja, o Ser e a Natureza. Natureza primordial, indiferenciada, também conhecida por Pradhana. O reflexo do Púrusha dá inicio à transformação de Prakrutí, através do desequilíbrio das três qualidades (triguna), elementos constitutivos da Prakrutí, levando-a assim à acção transformadora. Através desta praxis, a substância primordial faz desenvolverem-se diferentes níveis de realidade (tattva). A causa tem que conter tudo o que o efeito vier a revelar. Não poderá conter menos. Não poderá a causa ser menos que o efeito. O efeito, todo ele, contém-se na causa, embora de modo indiferenciado, latente. A evolutiva Prakrití é cega e inconsciente por si só, mas todas as suas actividades são propositais. No final de um kalpa o mundo é dissolvido e os três gunas da Prakrití tornam a equilibrar-se. Portanto, na teoria Sámkhya o efeito é inerente à causa. O mundo é inerente em Prakrití; torna-se manifesto apenas por meio da evolução.

 

Ora, no início, em consequência da ainda grande proximidade do púrusha, o guna predominante na prakrutí é o sattva. Então a manifestação do Universo, ocorre dos elementos mais subtis para os mais grosseiros.

 

A Prakruti é a energia ou o poder de se manifestar.

 

  1. Mahat, o grande.

 

É, desde logo, a primeira grande emanação de Prakrutí. Também conhecido como Buddhi [6]. É o intelecto numa dimensão universal, substrato de toda a compreensão. Ao nível individual, buddhi é a base, o substrato da inteligência de todos os seres. Se buddhi mais se refere ao aspecto individual, no que respeita ao discernimento, Mahat, a massa energética ou inteligência universal, tem a ver com o aspecto cósmico. Mas são apenas um só princípio. É o maior dos princípios produzidos pela prakrutí. É poder intuicional.

 

  1. Ahamkára, o Ego, a inteligência pessoal, a auto-consciência.

Surge logo em seguida. Introduz na consciência a dualidade entre o ser cognoscível e o objecto cognoscente. E é aqui que surge o erro primordial. Erro que permite ao homem pensar o princípio manifestado, a prakrutí, como sendo o próprio púrusha. É aqui que surge o grande erro metafísico que causa sofrimento ao ser humano.

 

  1. Manas, o pensamento.

 

É a inteligência pessoal, como resultado da acção transformadora. Os cinco aspectos dos elementos subtis (tanmátras).

 

Depois surgem os Jñanaindriya, ou seja, as cinco faculdades externas de percepção, dito de outro modo os sentidos, onde o guna predominante é sattva:

 

  1. Srôtra, a audição.
  2. Ghrana – o olfacto.
  3. Chakshus – a visão.
  4. Rasana – o paladar.
  5. Sparshana – o tacto.

 

Chega então a vez dos Karmaindriya, ou seja as cinco faculdades externas de acção, onde o guna predominante é rajas, a saber:

 

  1. Vak – a voz.
  2. Upashtha – a reprodução.
  3. Payu – excreção.
  4. Pani – preensão.
  5. Pada – locomoção.

 

Consecutivamente Tanmatra, as qualidades sensíveis, ou os cinco aspectos dos elementos subtis, onde o guna predominante é tamas, a saber:

 

  1. Shabda – o aspecto sonoro, a energia da vibração.
  2. Gandha – o aspecto olfactivo, a energia da atracção coesiva.
  3. Rupa – o aspecto visível, a energia da luz e da forma.
  4. Rasa – o aspecto sápido, a energia da atracção viscosa.
  5. Sparsha – o aspecto tangível, a energia do impacto.

 

Finalmente Máhábhúta, os elementos esotéricos e subtis que constituem a matéria, desde o mais subtil ao mais denso:

 

  1. Ákásha – éter.
  2. Váyu – ar.
  3. Têjas – fogo.
  4. Apas – água.
  5. Pruthuví – terra.

 

Por sua vez, os tattva, no Sámkhya não sistemático, são sete. apresentamo-los do mais subtil ao mais denso:

 

7) Shiva tattva,

supra consciência

Percepção do absoluto, consciência metafísicanível de consciência do iluminado, experiência psicológica enstática, onde cessa a dualidade, onde se dá a união entre os contrários. Permite num instante uma evolução correspondente a um milhão de anos. Corresponde ao

 

Sahásrara Chakra.

6) Buddhi, ou Manas,

isto é, a intuição linear.

Corresponde ao nível de consciência do iniciado. É o corpo intuicional. A diferença entre o iniciado e o homem comum é igual à diferença entre este e o nível de consciência animal. Corresponde ao

 

ajña chakra.

5) Akasha mandal,

isto é, o éter.

É o tattva do mental, tanto do concreto como do abstracto. O mental-abstracto é o corpo mental superior, ainda passível de ser atingido pelo homem comum, o mental-concreto é o corpo mental inferior. Corresponde ao

 

vishuddha chakra.

4) Vayu mandal

isto é, o ar.

É o tattva do corpo emocional, é o nível de consciência do animal. Corresponde ao

anáhata chakra.

3) Agni, ou Têjas, ou Vahni,

isto é, o fogo.

É o tattva do corpo energético, consciência vegetal. Corresponde ao

manipura chakra.

2) Apas, ou Jala,

isto é, a água.

É o tattva do corpo físico denso e energético, consciência de nível mineral. Corresponde ao

swáddhisthána chakra.

1) Pruthví, ou Bhur,

isto é, a terra.

É o tattva do alicerce, é o estado denso, nível reduzido de consciência. É a base ética, os preceitos éticos., os yama e os niyama. Corresponde ao

múládhára chakra.

 

 

Em suma, as características principais do Sámkhya, são:

 

1) afirmação de que toda a vida é necessariamente sofrimento;

2) indiferença ao teísmo e ao ritualismo dos sacrifícios védicos;

3) declarada oposição às extravagâncias ascéticas;

4) a crença no parináma-nityatva, o “constante devir do mundo”.

 

O acesso à verdade, para o sámkhya e, permitam-me, de passagem, a referência, pois temos convidados provenientes das artes marciais japonesas, também para o Zen, embora este seja muito mais tardio e com origem no Yôga [7], implica que aquele que quer conhecer vá muito para lá do âmbito do pensamento ordenado, da razão. Também não é possível ensinar a verdade transcendente através da lógica. Apenas a metáfora, os paradoxos, os símbolos, as imagens, permitem à mente elevar-se e descobrir o que está para lá dos contrários, elevar-se e escapar, através das asas das imagens e dos símbolos, à armadilha da vulgar lógica humana que tende a apresentar-nos como princípio elementar a verdade da incompatibilidade dos opostos. Alcançar o transcendente, implica transcender, entre outra coisas, o pensamento racional-discursivo, a lógica aristotélica e o raciocínio dualista cartesiano. Tudo estruturas que regem e limitam, no ser humano comum, a mente.

(C) Copyright, João Camacho, Yôgachárya

BOUANCHAUD, Bernard, Les Sámkhya káriká d’Íshwarakrshna, Introdução de Pierre-Sylvain Filliozat de L’Institut, col. Textes Ágamát, Éditions Ágamát, Novembro de 2002, Palaiseau, França, 223 pp.

DANIÉLOU, Alain, Shiva e Dioniso. A religião da Natureza e do Eros, Coleccão caminhos do despertar, ed. Martins Fontes, Setembro de 1989, S. Paulo, 235 pp.

DeRose, Mestre, Origens do Yôga Antigo, col. Uni-Yôga, ed. Nobel, 2005, S. Paulo, 150 pp.

DeRose, Mestre, Yôga Sútra de Pátañjali, 2.ª ed., col. Uni-Yôga, ed. Martin Claret, 1996, S. Paulo, 159 pp.

ELIADE, Mircéa, Le Yôga. Immortalité et liberté, col. Bibliothéque historique Payot, 2.ª reimpresão da 2.º edição de 1975, Editions Payot, Setembro de 2002, Paris, 435 pp.

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GEENENS, Philippe, Les Yôgasútra de Pátañjali, avec le comentaire de Bhôja, texto traduzido, anotado e apresnetado por Philippe Geenens, col. Textes Ágamát, Éditions Ágamát, Maio de 2003, Palaiseau, França, 159 pp.

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IYENGAR, B. K. S., Luz sobre el pránáyáma. Pránáyáma Dípiká, prólogo de Yehudi Mênuhin, col. Biblioteca de la Salud, ed. Kairós, Novembro de 1989, Barcelona, Espanha, 336 pp.

Michaël, Tara, Yôga, reimpressão da 1.ª edição de 1975, col. SAGESSES, Editions do Rocher, Janeiro de 1995, Paris, 238 pp.

SANTOS, Mestre Sérgio, Yôga, Sámkhya e Tantra, 2.ª ed., col. Uni-Yôga, ed. Martin Claret, 2000, S. Paulo, 175 pp.

TAIMNI, I. K., A ciência do Yôga. Comentário sobre os YÔGA-SÚTRA de Pátañajali à luz do pensamento moderno, Editora Teósofica, 1996, Brasília, 343 pp.

VARENNE, Jean (trad.), Upanishads du yôga, Tradução do sânscrito e notas de Jean Varenne, tradução relida por Mme. Ch. Vaudeville, professora na Sorbonne,  col. IDÉES – collection UNESCO d’oeuvres représentatives, série indienne, ed. GALLIMARD, Janeiro de 1974, Paris, 214 pp.

 

[1] Poema do Senhor, pg. 259, nota à estrofe 7 da sétima lição.

[2] Antônio Renato Henriques, Yôga & Consciência, pg. 56.

[3] Eliade, História das Ideias e das Crenças Religiosas, vol. II, pg. 50.

[4] Neste sentido Santos, Yôga, Sámkhya & Tantra. Contra, Riviére, que afirma basearem-se as doutrinas essenciais do Tantrismo na filosofia Sámkhya, in El Yôga Tântrico, pg. 36, sem contudo o demonstrar.

[5] Tara Michael, O Yôga, pg. 48.

[6] Neste sentido Feuerstein, Manual de Yôga; Michaël, O Yôga; Santos, Yôga, Sámkhya & Tantra; Barahona, glossário á tradução do Poema do Senhor, Bhagavad Gita, de Vyassa.

[7] Vindo da Índia para a China no séc. V, o Zen parece ter chegado ao Japão no séc. VI. Bôddhi Dharma, o 28.º patriarca budista levou para a China o Yôga. O Yôga contém a meditação como uma das suas técnicas. Em sânscrito tal técnica diz-se dhyána. Por um fenómeno linguístico, os hindus não lêem a última letra das palavras, sobretudo quando esta é um “a”. A palavra que designa meditação chegou à China como dhyán. Onde foi incorporada como chan. Mais tarde, ao ser incorporada no Japão passou a ser pronunciada Zen.

No fim do séc. XII o Zen começa a influenciar os buke, como uma religião da vontade instintiva purificada. Mas só no séc. XII, na era Kamakura, nome da capital do Japão nesse tempo, é que se tornou influente. Nesta mesma época, por influência dos monges Zen, os nobres e os buke adoptaram a cerimónia do chá, cha no yu. O zen e a cerimónia do chá davam aos nobres um estado de espírito propício à educação, à modéstia, à serenidade, à mestria de si próprio, sem orgulho, nem arrogância. Esta ideia está contida no conceito de wabi, melancolia e gosto por aquilo que é simples. Conceito que é caro aos japoneses.

A procura que o Zen faz do estado de não mente, assim como a renúncia à vida, tal como as suas explicações simples das coisas da vida, levou os guerreiros a adoptá-lo como filosofia orientadora. As artes marciais, se praticadas em toda a sua pureza, são consideradas Zen em movimento. In João Camacho, UMA VISÃO TRANSPESSOAL DAS ARTES MARCIAIS. 2ª PARTE.