A simbologia da origem lendária do Yôga

Quando se procura a origem do Yôga, verifica-se que se perde na noite dos tempos. Os documentos históricos e arqueológicos são escassos e referem-se à Nossa Cultura como algo de muito ancestral. Mas a mitologia dá o seu contributo. E é possível encontrar nas lendas muitas informações sobre a cosmogénese e a antropogénese na perspectiva hindu.

Uma das mais antigas lendas relata que a filosofia que preconizamos surgiu na Terra quando um peixe, matsya, que nesta lenda simboliza a forma de vida primordial no planeta, assistiu ao ensinamento que Shiva ministrava à sua Shaktí. Este ensinava-lhe a nossa tradição ancestral. E Matsya foi imitando os exercícios que Shaktí ia praticando. E à medida que o ia fazendo foi evoluindo. Primeiro saindo da água, depois adaptando-se à vida terrestre. Depois transformou-se em Homem (evolução do peixe ao mamífero humano). Este, o homem, por sua vez, através da prática do Yôga evolui até ao nível do iluminado.

Repare-se no paralelo que se pode estabelecer com a origem da vida na água, a evolução que ocorre da água para terra, e com a própria teoria da evolução.

Por outro lado, também revela que Shiva enquanto princípio da manifestação é um princípio abstracto, ensina, mas não age. É Shaktí, a natureza primordial indiferenciada, a Mãe universal, ou potência da manifestação, que actua, executando as práticas do método que transmitimos. Shiva representa a causa eficiente – nimitta karana – e Shaktí representa a causa material – upadana karana – e da sua união nascem todas as outras formas do ser. A evolução de Matsya é um símbolo da práxis transformadora de Shakti.

Devo acrescentar que, nos shástra, quando se relata Shiva a ensinar a Shakti, estes textos são os ágama. Quando é Shaktí a ensinar a Shiva, recebem o nome de nigama.

 

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