Círculo de leitura de 24/07/2020

ORIGENS – Súrya namaskára
O Súrya namaskára foi criado há milhares de anos, na civilização do Indo-Saraswatí, entre o povo drávida. Alguns autores ocidentais, erradamente, atribuem ao Súrya namaskára uma origem próxima, na Idade Média. Laboram em erro. As origens do desta antiga prática radicam na própria origem do Yôga. Ensina Satyánanda que
“As origens do Súrya namaskár datam de antes das mais antigas épocas da história quando os seres humanos pela primeira vez tomaram consciência da existência de um poder espiritual existente dentro deles e que se encontra também no universo material. Esta consciência é a fundação do Yôga.”
Ainda segundo Swami Satyánanda
“A adoração e veneração do sol foi uma das primeiras e mais naturais formas de expressão interior. A maior parte das antigas tradições incluem formas de adoração do sol, incorporando vários símbolos solares (…).”
E, de modo inquestionável, o ilustre Mestre, explica que
“Este grupo dinâmico de ásana não é entendido como sendo uma parte tradicional das práticas de Hatha yôga, uma vez que só foi adicionado mais tarde ao grupo de ásana definidos inicialmente.”
No mesmo sentido, declara António Blay, conhecido mestre de Hatha Yôga, que “o Súrya namaskár não é propriamente um exercício do Hatha Yôga.”
TEORIA GERAL
Começamos por indicar o que significa súrya. É uma das palavras do sânscrito, uma língua morta, muito antiga, indo-europeia, que designam o Sol. O sânscrito é também a linguagem técnica do Yôga. Namaskára significa saudação.
Súrya é o fogo que aquece e ilumina, mas que também cega e queima. Dá vida e destrói. Da fusão entre o oceano e o sol surgiu a vida. Pois esta obtém a sua energia de Súrya, o grande dispensador de vida.
Súrya tem dois aspectos:
O primeiro como Súrya: É o que aquece, mas é o que queima. É o que ilumina, mas é o que cega. É o que dispensa vida, mas é o que destrói.
O segundo aspecto é Savitur: É o poder de dar vida. É o poder básico motivante para a auto-superação. É também o sol que se pode olhar, ao nascente e ao poente. É a este poder inspirador da auto-superação que o Gáyatrí Mantra se dirige.
Shrí DeRose apresenta esta bela tradução :
ÔM bhúr bhuvah swaha, Em todos os planos da criação,
ÔM tat Savitura varênyam. sejamos como o Sol,
bhargô dêvasya dhímahi. esplendorosos como deuses.
dhiyô yô naha prachôdayátô. Que isso estimule nossas
mentes.
A tradução apresentada é a mais consentânea com o Dakshinacharatántrika-Niríshwarasámkhya, as raízes filosóficas da nossa ancestral tradição. Decompondo:
o ÔM – O mais importante dos mantras, o próprio corpo sonoro do Absoluto.
o Bhúr – terra, o plano físico.
o Bhuvah – atmosfera, o plano intermediário entre a terra e o céu.
o Swaha – luz, céu, espaço.
o Tat – aquele.
o Savitura – genitivo de Savitri, estimulante, nome de uma personalidade mitológica ligada ao Sol;
o Varênyam – desejável, excelente.
o Bhargô – esplendor.
o Dêvasya – digno dos deuses.
o Dhímahi – possamos nós alcançar.
o Dhiyô – pensamento, meditação, devoção.
o Prachôdayatô – estimular, pôr movimento.
Há muitas variantes de Súrya namaskára. Seguidamente apresentamos a forma base que adoptamos como a forma estilo da nossa linhagem e assim definida por Shrí DeRose . Acrescentámos o nome de cada uma das posições, assim como a numeração, em sânscrito.
O Súrya namaskára pode ser olhado a partir de três principais componentes:
Forma: A ordem sequencial dos doze ásana que compõem esta prática é a sua matriz que permite autonomizá-la e distingui-la de outras coreografias.
Energia: A sua prática estimula a absorção e circulação de prána a nível dos corpos físico e energético, agindo, pelo acréscimo energético sobre o funcionamento dos corpos emocional e mental, preparando o caminho para o intuicional. E regula, especificamente, o funcionamento de píngala nádí.
Ritmo: A prática de Súrya namaskára deve ser feita com ritmo. Veremos à frente, alguns dos ritmos possíveis. Deve, no entanto, deixar-se a nota de que algumas escolas de Yôga associam cada uma das posições a uma casa do Zodíaco, entendendo que, dessa forma, o ritmo expresso no Súrya namaskára é um ritmo cósmico.
Cumpre tecer ainda alguns comentários sobre o Súrya namaskára, no sentido de melhor se compreender o seu fundamento e simbolismo, de acordo com os preceitos do Tantra/Sámkhya. Fá-lo-emos vivenciando esse simbolismo no corpo com a execução do Súrya namaskára.

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