Contudo as técnicas usadas pela nossa linha de Yôga não se esgotam nas oito que compõem o ashtánga sádhana. Na verdade são pelo menos mais oito. Pelo que abrangem todas as famílias de técnicas do Yôga. A este outro conjunto de técnicas e recursos que aceleram o crescimento, evolução e a integração na egrégora do Yôga pré-clássico, designamos por Uttara Ashtánga. São técnicas suplementares:
1) – Bháva
É o sentimento que se coloca numa prática de Yôga. Deve ser adequado, implica uma atitude interior de contrição. E sem bháva não há prática de Yôga.
2) – Bandha
Significa contracção. E, entre outros, são o uddiyana bandha, jalándhara bandha, múla bandha, jíhva bandha, Khêchari bandha, já acima exaustivamente descritos, e que são habitualmente executados com pránáyáma ou ásana, ou no kriyá.
3) – Mauna
Significa silêncio. É uma prática de tapas, disciplina. O praticante durante as práticas fica em mauna procurando conseguir uma maior interiorização. Na nossa linhagem, porque somos tântricos não utilizamos muito esta técnica.
4) – Manaskriyá
É o nome que se dá às mentalizações feitas durante a prática.
5) – Sat Sanga
É uma reunião de estudo, em que os sádhaka se sentam para estudarem em conjunto ou fazerem mantra, ou ainda para meditação. É uma reunião em boa companhia. Se for uma festa e os participantes forem todos praticantes de Yôga também é um sat sanga.
6) – Sat Chakra
É uma prática colectiva altamente energética, cuja finalidade é trabalhar e desenvolver as energias de cada um. Os sádhaka colocam-se em círculo. A sua estrutura segue a seguinte ordem:
7) – Shiva Natarája Nyása
A expressão significa “identificação com Shiva no seu aspecto de dançarino real”. Na verdade constitui uma arte marcial secreta e muito antiga, que fazia parte do Yôga, da qual nasceram as artes marciais indianas e chinesas e até as japonesas.
Esta prática permite ao sádhaka melhorar a sua linguagem gestual promovendo a identificação com o próprio criador do Yôga, Shiva. Projecta o sádhaka para a egrégora do Yôga.
É parecido com um Kata das artes marciais, dos estilos internos [1].
8) – Outros Nyása
Nyása significa a identificação entre o sujeito cognoscente e o objecto cognoscível, o que implica a supressão do acto de conhecer. De modo geral significa a identificação do sádhaka com seres ou objectos, à sua escolha [2].
(C) Copyright, João Camacho, Yôgachárya
[1] Num outro trabalho, com o título de As origens das artes marciais, distinguimos da seguinte forma os estilos internos e os estilos externos:
«Qualquer arte marcial pretende desenvolver, trabalhar, dominar a bio energia, chame-lhe ki, chi, ou prána. Ora o que distingue um estilo interno do externo é que este inicia o seu trabalho de fora para dentro, procurando eficácia marcial através das capacidades físicas. O estilo interno procura desenvolver primeiro a bio energia, e a sua eficácia em combate resulta da aplicação dessa energia. Dizê-lo assim é redutor e simplista, mas não é finalidade do nosso trabalho estabelecer esta distinção. Deverá ter-se presente, na análise que se faça do que é ou não um estilo interno os seguintes dados:
1 – Sabe-se que quase todos os grandes mestres tiveram discípulos internos e externos, a quem ensinaram partes distintas da sua arte, o que dava por vezes origem a estilos distintos.
2 – Sabe-se que, quase sempre, os aspectos externos eram do conhecimento quase todos os discípulos, ensino exotérico. Os aspectos internos só eram ensinados em segredo e apenas aos discípulos que o mestre escolhia, ensino esotérico.
3 – Sabe-se também que os estilos externos fazem habitualmente um trabalho baseado sobretudo na força física, no bloqueio, na resistência, na contracção muscular. Os estilos internos apostam na subtileza, sem haver por isso diminuição da eficácia, antes pelo contrário, na esquiva, na não resistência, na descontracção.
4 – Se aqueles estilos vêem o corpo humano como um sólido e por isso usam predominantemente o punho fechado para mais estragos lhe causarem, estes com uma apreciação mais subtil e profunda apercebem-se que o corpo é composto preponderantemente de água, numa percentagem elevadíssima, sendo assim muito mais útil utilizar as mãos abertas, pois dar um soco na água pouca eficácia terá.»
[2]Autores de outras linhas de Yôga referem e definem esta prática, indicando-a como ritual tântrico, embora de modo mais redutor, abordando e descrevendo apenas um dos aspectos do Nyása. Assim Van Lysebeth, in Tantra, el culto de lo Feminino, pg. 341, define esta prática como «un aspecto del ritual tántrico en el cual, por lo tacto o projección mental, se situan energías o “diosas” en las distintas partes del cuerpo.” Já Ajit Mokerjee, in Kundaliní. The Arousal of the Inner Energy, pg. 107, numa definição algo semelhante, afirma, «an “empathy building” method which expands the awereness. In the tantra ritual known as Nyása, parts of body are sensitised by placing the fingertips on sensory-awareness zones.»