Tango do exílio

 

 


Inst. Júlio silva
 , João camacho,

                                                                                                 Tenho canções de mil cidades  

                                                                                                 Que a névoa apagou

                                                                                                 Não há ninguém a quem contar…

 

                                                                                                 Atravessei mil tempestades   

                                                                                                 Que o tempo amainou

                                                                                                 Hoje não sei a quem contar…

 

                                                                                                 À noite lembro essas cidades

                                                                                                 Que me hão-de levar

                                                                                                 Eu quero alguém a quem contar…

 

Sétima Legião

 

I – O poema

 

Por vezes descobrem-se, na actividade artística, aspectos que parecem comungar de algum vislumbre do intuicional. Dessa forma vamos olhando para a produção artística, encontraste, às vezes, algo que comunga com a proposta da Nossa Cultura. Muitas vezes, tão só um pequeno aspecto, às vezes, a mensagem explicita, outras, apenas um pequeno conceito, despercebido na mensagem geral. Desta vez olhámos para este poema de uma das canções do grupo musical, Sétima Legião: Tango do Exílio.

 

Sobre este poema deixo-vos a interpretação do Instrutor Júlio Silva. E, seguidamente alguns subsídios para a compreensão do conceito de mil.

 

Na primeira estrofe o poder que existe em todo o ser, a energia cósmica que está à espera de ser despertada, mas que a névoa do tempo que se espiritualizou institucionalizado se aperfeiçoa em esconder.

Na segunda estrofe vejo alguém que logrou o caminho da libertação, pela qual muitos podres e tempestades enfrentou, mas o tempo e o ritmo permitiram ultrapassar esses sustos das tempestades descobertas no caminho, e uma vez alcançado esse estágio não se sabe a quem contar, pois não compreenderiam.

Na terceira estrofe é a vivência já regular que visita constante esse estado de hiperconsciência que mais uma vez se gostaria de partilhar mas não há ninguém a quem contar, embora se queira.

Júlio da Silva.

 

2 – Sahásra

(mil)

 

Faço-vos esta chamada de atenção acerca do conceito de mil. É um conceito muito comum em variadas tradições. Tantas vezes este conceito nos surge por referência a impérios dos mil anos. E muitos tiveram essa duração. A Idade Média durou entre a queda do Império Romano e a Renascença, 1000 anos. O Império Romano durou, sensivelmente 1000 anos. A Igreja Católica afirmou-se todo-poderosa, nos mil anos da Idade Média, pelo menos na Europa Ocidental. O Império Romano do Oriente durou entre a queda de Roma e a Renascença, quando Constantinopla caiu nas mãos dos turcos otomanos – mil anos. Hitler, imbuído de um grande conhecimento esotérico, conhecendo as tradições e a simbologia, proponha-se a criar o III Reich, o Império dos mil anos.

São mil são os nomes da divindade (sahásra nama), para o hinduísmo. Há no hinduísmo trabalhos sobre os mil nomes da divindade em relação a Shiva, a Vishnu, a Lalita, a Ganapati, etc… Também sabemos que os iluminados transcendem nome (nama) e forma (rupa). O mestre fundador da Escola Bháva, a Nossa Escola, Shrí Kundalípati Bhávajanánda, um dia, afirmou a Mestre DeRose (que se encontrava em estado intuicional):

 

Eu Sou aquele que não tem nome (nama) nem forma (rupa).

Não te importes tanto se vivi há muito ou há pouco tempo,

Se no Oriente ou no Ocidente. Importa que eu viva

Aqui e agora, dentro do teu coração.

 

Os nomes, os mil nomes, são considerados como mantra. E por se referirem a um atributo da divindade, em rigor permitem um determinado tipo de organização da energia.

Por outro lado, sahásrara chakra, é o chakra das mil pétalas. Sahásra significa ‘mil‘, ra significa ‘raio‘ e chakra significa ‘roda‘, ‘vórticeenergético.

Quando nos debruçamos sobre a fisiologia subtil, descobrimos também uma referência a um chakra muito importante, o manipura chakra. Aqueles que se recordam do ensinamento que lhes dei sobre o pránáyáma, recordar-se-ão da importância fundamental e indispensável deste chakra no despertar da kundaliní, da sua inter-relação com o múla bandha, com o jalándhara bandha e com o uddiyana bandha. Ora, acerca deste chakra, chama-lhe a tradição, a cidade das mil pedras preciosas.

 

Um dia destes descobri, ou dei mais atenção, a um trabalho dos Sétima Legião, e fiquei deveras surpreendido. Mais uma vez, o artístico a um passo do intuicional.

 

Azeitão, 18 de Junho de 2007

 

(C) Copyright, João Camacho, Yôgachárya    e     Inst. Júlio Silva

“Sou irmão de dragões e companheiro de corujas.”

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *