RAMAYANA

Texto para a reunião do Círculo de Leitura de Março de 2019

 

A Bela Ayôdhya estava cheia de guerreiros, como a caverna de uma montanha está
cheia de leões; seus guerreiros eram impacientes e mortais para os inimigos. Cada um deles
era capaz de derrotar, sozinho, dez mil carros, mas nenhum se aventurava a acomete-las.
Mantinham a cidade segura e tentavam desagravar todo e qualquer agravo que se lhes
deparasse.
(….)
Sentinelas correram para Malyavan, e os bravos Nómades da Noite ergueram-se no céu. Seus carros e elefantes chegaram correndo pelo ar; os graciosos cavalos de guerra, que voavam céleres, vermelhos, brancos e azul-pálidos, moviam-se lentamente em círculos e escarvavam o firmamento. Garuda voou para o ataque. Narayana ficou escondido pelos enxames de setas dos demónios, que batiam duro, voavam de verdade e estavam com sede.
Os cavalos dos demónios tropicaram. O barulho do arco de Narayana petrificou-lhes os elefantes, que caíram do céu e se quebraram. Os pendões de guerra agitavam-se loucamente, o sangue inundava os rios.
(….)
Nas ruas, carregando tochas, Hanuman viu as patrulhas nocturnas de guerreiros rakshasas de todas as nações de demónios, trajados segundo a mais rica e régia pompa
heráldica, ou estadeando penas e rémiges, ou usando peles cruas em decomposição, ou caminhando nus com a cabeça raspada. Estavam armados de maças tachadas, facas, zarabatanas ou punhados de relva santa convertida, por artes mágicas, em lanças e azagaias.

TÁNDAVA

Um dos sistemas indianos antigos é designado como Tándava. O Tándava, ainda hoje conhecido como uma das «danças» de Shiva, era na uma arte marcial secreta, praticada como técnica suplementar do Yôga pré-clássico, o Yôga de Shiva, com mais de 6000 anos. Era um
Yôga Dakshinacharatántrika Niríshvarasámkhya.
Deste sistema provirá o Kempo (designação japonesa para o sistema de luta de Shaolin).
O Tándava, a dança da delimitação do espaço vital. É parecido com um Kata das artes marciais, dos estilos internos e constitui uma arte marcial secreta muito antiga. Kim Min-Ho, afirma que na Índia, existem métodos de combate estruturados, baseados nas técnicas de Yôga.
Por sua vez, Patrick Denaud declara aspectos bastante interessantes. Desde logo, que nesta arte marcial indiana as técnicas utilizadas são próximas das do Yôga. Sobre as origens do Kalaripayat diz este autor que se confunde por vezes com as origens do Yôga. Mas, o mais interessante
é chegar, neste livro, à secção “Limpeza e purificação do corpo”. Isto quando o autor começa a descrever as técnicas utilizadas, como os pontapés, os socos, o tiro com arco, etc… Mas na limpeza e purificação este autor compila as seguintes técnicas: Dhauti – Empregam-se quatro procedimentos para purificar o corpo: a lavagem estomacal (antardhauti), a limpeza da cavidade
bocal (dantadhauti), a limpeza do peito (hrddhauti) e a purificação do recto (múláshôdhana). E indica
ainda outras técnicas contidas no shat karma, nomeadamente vasti, nêti, lauliki, trátaka, kapálabhati.
Numa obra tardia, do séc. X, Shiva, designado por Tripurahara, o destruidor das três cidades dos Asura, também é apresentado como arqueiro:

O teu carro era a Terra, e Indra o teu cocheiro,
E o Senhor das montanhas eram o Sol e a Lua,
E Vishnu a tua flecha,
Quando ias destruir pelo fogo,
Tripura,
Aquele pedacinho de palha!

Shiva também tem um exército (buthagana – exército de demónios) do qual Ganêsha é o comandante-em-chefe. Para além de ser o Deus da Guerra, como acima se referiu, Shiva é também le dieu des soldats, como surge em L'Hymne aux Cent Rudras de Vájaseneyi
Samnita (Yajur Vêda, 16, I)
Tu portes un arc jaune, un arc d’ or
Qui agride frappe mille, qui tue cent, ô Dieu chevelu.

TENJIKU-NURANOKAKU

Arte marcial do sul da Índia, igualmente antiga, cujos mestres a entendem como um sistema de combate muito eficiente e uma forma de o guerreiro se preparar para a guerra, mas acerca do Yôga, dizem ser a arte suprema.
É considerada a origem directa do Shorinji Kempo (japonesa) e do Kalaripayat (indiana), também designado por Vajramushti, punho como um raio.
Não se sabe ao certo qual das artes marciais indianas acima indicadas é a mais antiga, mas poderá pensar-se que a mais antiga será o Tándava, técnica suplementar do Yôga. Min-Ho confirma-o dado que en Inde, ont existé des méthode de combat structurées, basées sur des techniques de Yôga, tanto mais que Shiva, o criador do Yôga, é muitas vezes representado como
guerreiro, que tem como emblema principal a trishula, a lança tridente, a sua arma como herói.
Shiva é muitas vezes representado portando armamento como um guerreiro. E representado com uma espada (….) um laço, um escudo e ainda armado de arco e flechas, sendo designado, quando assim é, como Sharva (o arqueiro). Ou ainda, nas palavras de Danielou
Shiva apparut (….) portant un arc et un trident, o arco de Shiva tinha o nome de Pinaka. E, maxime, Shiva é também o Deus da Guerra (somaskanda).
Sistemas de combate foram estudados e praticados na China, ao contrário do que é hábito afirmar, muito antes da ida de Bôdhi Dharma para Shaolin (ano 525 d. C.). Parece que só se pode especular, contudo é certo que a Índia manteve estreitos contactos histórico-culturais com
muitos países do Oriente Antigo e com o mundo greco-romano (….) já era habitada na mais remota
antiguidade e que já no VII milénio a. n. e. a população cultivava muitos cereais, tinha domesticado o gado
bovino e estabelecido estreitos contactos com as culturas contemporâneas do Irão e da Ásia Central. A Índia
passou a fazer parte do grupo dos mais antigos focos de cultura do Oriente.
A influência deste foco de cultura fez-se sentir com grande intensidade no Sueste
Asiático, na Ásia Central e no Extremo Oriente. E é igualmente certo que sur le plan des
pratiques psychosomatiques et psychothérapeutiques, on constate une ressemblance étonnante entre les
pratiques du Yôga indien et celles du taoisme chinois.

Camacho, João; Original Kano Jûdô (1882-1938) Monografia para o exame para rôkudan em
Jûdô. Pg. 18-21

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