por Alexandre Ramos
“O Yôga é a arte de unir a alma individual (jívátmam) com a Alma Suprema (Paramátmam), de unir a kundaliní-shaktí que está adormecida no múládhára chakra com Shiva no sahásrara chakra” (Sivananda, 1953, p. 274)
Kundaliní é um termo sânscrito que pode ser traduzido por serpentina ou enroscada, aquela que tem a forma de uma serpente. O termo é feminino, deve ser sempre acentuado e pronunciado com o í final longo (DeRose, 1992, 1999, 2007). Segundo documentos indianos antigos, bem como autores contemporâneos, a kundaliní é uma forma de bioenergia latente no corpo humano, concentrada na base da coluna vertebral, na região dos órgãos genitais, transmissores de vida e força (White, 1977).
Apesar de ainda não ter sido identificada pela Ciência (White, 1977), a kundaliní não é um mito ou uma ilusão. Não é uma mera hipótese ou uma sugestão hipnótica. A kundaliní é uma substância biológica que existe no organismo. Ela não é psicológica, filosófica, ou transcendental. O seu despertar gera impulsos eléctricos através de todo o corpo, e estes impulsos podem ser detectados por aparelhos científicos modernos (Satyananda, 1984). No entanto, ela também não pertence ao corpo físico denso (annamáyákôsha), apesar de estar conectada com ele, mas sim ao corpo físico energético (pránamáyákôsha) (Descamps, 2005; Satyananda, 1984).[1]
A kundaliní está “adormecida” como uma serpente de fogo, enroscada 3 vezes e meia[2] em torno do svayambhu linga(m) (falo), no múládhára chakra,[3] o centro de força que todos possuímos junto à base da coluna vertebral e órgãos genitais (DeRose, 1992, 2007), ou seja, na base da nádí[4] sushumná[5] (Santos, 2000), obstruindo desta maneira o brahmadwára (a «porta» de Brahman, o Ser, a consciência suprema) (Eliade, 1954). Segundo Sivananda (1953), as 3 voltas e meia representam a Prakrití (a Natureza em geral) da filosofia Sámkhya e os seus 3 gunas (qualidades: tamas – inércia, rajas – movimento, e sattwa – equilíbrio), juntamente com os vikritis (o mental, a matéria e as suas múltiplas formas). De acordo com Satyananda (1984), as 3 voltas representam os 3 matras (uma unidade de tempo que corresponde a pouco menos de um segundo) do mantra ÔM, relacionados com o passado, presente e futuro; os 3 gunas: tamas, rajas e sattwa; os 3 estados de consciência: vigília, sonho e sono sem sonhos; os 3 tipos de experiência: experiência subjectiva, experiência sensual e ausência de experiência. A meia volta representa o estado de transcendência. Assim, as 3 voltas e meia dizem respeito à experiência total do universo e a experiência da transcendência.
Enquanto a kundaliní está adormecida, é como se fosse uma chama congelada, um fogo parado. Uma vez desperta,[6] é tão poderosa que o Hinduísmo a considera uma deusa, a Mãe Divina, a Shaktí[7] Universal (DeRose, 1992, 2007). “De facto tudo depende dela conforme o seu grau de actividade – a tendência do Homem à verticalidade, a saúde do corpo, os poderes paranormais, a iluminação interior que o arrebata da sua condição de mamífero humano e o catapulta em uma só vida à meta da evolução sem esperar pelo fatalismo de outras eventuais existências” (DeRose, 1999, p. 77, 2007, p. 58).
Podemos definir a kundaliní como uma energia física, de natureza nervosa e manifestação sexual (DeRose, 1992, 1999, 2007; Santos, 2000). Quando é despertada é conduzida pelo sistema nervoso central até ao cérebro. Mediante esse processo alquímico de transmutação da energia genésica em poder criador, exacerbam-se a inteligência, a criatividade, percepções e estados expandidos de consciência (DeRose, 2007). De acordo com a opinião dos antigos mestres, o aparelho reprodutor tem duas funções: a reprodução e a evolução. A kundaliní é a guardiã da evolução humana. Com o despertar da kundaliní dá-se a reversão do aparelho reprodutor e o seu funcionamento mais como mecanismo de evolução do que de reprodução, enviando para o cérebro um fino fluxo de “energia nervosa” muito potente (Krishna, 1985). O acordar dos chakras é um importante evento na evolução humana. Não deve ser confundido com misticismo ou ocultismo, porque com o acordar dos chakras há mudanças na consciência e na mente. Estas mudanças têm significativa relevância e relação com a vida do dia-a-dia. Com o despertar da kundaliní não apenas visões transcendentes têm lugar. Ocorre também o desenvolvimento da inteligência criativa e o acordar de faculdades supramentais. A kundaliní é a energia criativa; é a energia da auto-expressão. Não só a mente muda, bem como as nossas prioridades e afectos. Porém, esta transformação pouco tem a ver com a vida moral, religiosa ou ética de cada um. Tem mais a ver com a qualidade das nossas experiências e percepções. Tal como na reprodução, uma nova vida é criada. Ocorre como que uma metamorfose. Há até a possibilidade de todo o corpo físico ser reestruturado (Satyananda, 1984).
Por meio de técnicas esta «energia da serpente» pode ser despertada e guiada ao longo da coluna vertebral através de vários chakras até ao cérebro (White, 1977). O Tantra[8] fornece um curso graduado de maneira a despertar a kundaliní no Homem, fazendo-o atravessar várias etapas no caminho da grande consciência cósmica, que os Upanishads (comentários dos Vêdas[9]) descrevem como sendo o grande objectivo da vida do Homem. O culto tântrico, assim como os seus exercícios, têm influenciado continuamente o Hinduísmo e o Budismo. Esta influência é sentida desde o culto de gráma-dêvatá, no mais interior vilarejo da Índia, até ao mais elevado dêví-upásana dos grandes adwaitins (monistas) como Shankarácharya (788-820 d.C.). Penetrou até num ritual puramente vêdico: a meditação do gáyatrí mantra no sandhyá vandana. Os Tantras são, na realidade, escrituras comportamentais que passaram a existir como resultado do desejo hindu de não se satisfazerem, através dos tempos, com meras teorias em religião, mas trazer cada teoria ao teste da experiência concreta. O Vêda, sem dúvida, proclama a identidade do jívátmam, a alma individual, e do Paramátmam,[10] o Espírito Supremo. Porém, como redescobrir esta identidade perdida? Como purificar (sôdhana) e levantar (uddhára) a alma imersa em pecado e tristeza ao nível original da chaitánya (consciência) pura? É aqui que o Ágama ou Tantra vem em nosso auxílio e descreve o caminho da realização, passo a passo, de acordo com o adhikára (qualificação) de cada um (Sarma, 1967).
A kundaliní é um termo feminino por ser o Poder Ígneo, de natureza feminina, isto é, de polaridade negativa (DeRose, 1992, 1999). Na doutrina do Tantra Shakta, macho (Shiva) e fêmea (Shaktí) são dois princípios do universo. Estes dois princípios existem no interior de cada indivíduo (Rama, 1995). Shiva é a consciência suprema, imutável e eterna e Shaktí o seu poder cinético. O Universo é Poder. O Universo é uma manifestação da glória desta dêví (deusa) (Sivananda, 1979). Ela é identificada com shabda-brahman (o som primordial ou som do Absoluto: o mátriká mantra ÔM) (Eliade, 1954; Muktananda, 1994b; Van Lysebeth, 1990). Shaktí é, acima de tudo, uma força consciente e inteligente (Feuerstein, 2001). À escala cósmica esta Shaktí é designada pelo nome de mahakundalí, o Grande Poder enrolado. À escala microcósmica (humana) é denominada kundaliní, a enrolada, a energia que, no termo do processo involutivo que produziu o psiquismo e o corpo, continua a ser o suporte da manifestação individual (Michael, 1978). Porém, pensa-se que a kundaliní contém não apenas energia latente mas também memórias latentes, quer pessoais, quer transpessoais.[11] O modo moderno de entender este poder latente é em termos do inconsciente[12] (Rama, 1990).
A kundaliní é conhecida tradicionalmente como Durga, a criadora, Chandi, a feroz, sedenta de sangue, e Kali, a destruidora (Krishna, 1985). Por exemplo, quando ela acabou de despertar e somos incapazes de dirigi-la, é chamada Kali. Kali, a primeira manifestação da kundaliní é um poder terrível; é o poder inconsciente do Homem. Kali subjuga completamente o indivíduo, o que é representado pela sua dança sobre o Senhor Shiva. Isto acontece às vezes devido a instabilidade mental; neste caso, as pessoas ao tomarem contacto com o seu inconsciente vêem inauspiciosos e ferozes elementos – fantasmas, monstros, etc. (Satyananda, 1984). Krishna (n.d.), após ter despertado a kundaliní, escreveu: “Nada pode expressar a minha condição mais graficamente do que a representação de Shiva e Shaktí (na forma de Kali) pintada por mestres antigos, na qual vê-se Shiva prostrado na posição supina, indefeso, enquanto que a outra, de maneira absolutamente despreocupada, dança alegremente sobre o corpo do primeiro. O observador autoconsciente em mim, o assim chamado dono da estrutura carnal, agora completamente subjugado e posto fora de acção, constata que ele próprio está completamente à mercê, ou seja, falando literalmente, está aos pés de um poder que inspira pavor, totalmente indiferente àquilo que o dono pudesse pensar ou sentir, prosseguindo impassivamente com o corpo até à meta escolhida, sem mesmo conceder-lhe o direito de saber o que fez para merecer a injúria. Tenho todas as razões para crer que a representação foi planeada para pintar uma condição exactamente similar à minha por parte de um iniciado, o qual passou por uma provação igual” (p. 173). Quando Kali desperta desloca-se para cima para encontrar a manifestação ulterior, tornando-se Durga, a supraconsciente, que outorga glória e beatitude. Durga é a removedora das circunstâncias nefastas da vida e a dadora do poder e da paz que se libertam do múládhára chakra. Em suma, quando já somos capazes de dirigir a kundaliní e usá-
-la para propósitos benéficos, e nos tornamos poderosos à sua custa, é chamada Durga (Satyananda, 1984).
Na Índia, a kundaliní-shaktí também é conhecida por: bhujangí, kutilangí, shaktí, íshwarí, kundalí, arundhatí (Eliade, 1954, 1989), dêvátma shaktí (Swêtáshvatara Upanishad, citada por Rama, 1990), chiti (Muktananda, 1994a, 1994b), chiti kundaliní (Muktananda, 1994a), cit-kundaliní (Feuerstein, 1998), mahakundaliní (Santos, 2000), kúlakundaliní (Feuerstein, 1998; Sivananda, 1991), bhujanginí, phaní, nágí, chakrí, saraswatí, lalalná, rasaná, samkiní, rájí, sarpiní, mani, ashtá-vakrá, átma-shaktí, avadhútí, kuntí, entre outros nomes (Feuerstein, 1997). O despertar da kundaliní é designado por udghata (Sivananda, 1986; Vivekananda, 2000). O Tantra Álôka de Abhinava Gupta (citado por Feuerstein, 1998) distingue a púrna-kundaliní, a prána-kundaliní e a urdhwa-kundaliní. A primeira é o poder divino enquanto Plenitude (púrna); a segunda é o poder divino na sua manifestação de energia da vida (prána); a terceira é o poder divino enquanto serpente acordada movendo-se para cima (urdhwa).
Porém, o despertar da kundaliní não é exclusivo da prática tântrica; é a base de todas as modalidades de Yôga (Mookerjee, 1991). A palavra Yôga significa «união», e esta união pode ser entendida como a união de kundaliní-shaktí com Shiva (consciência pura) (Rama, 1990). Sivananda (1953) escreveu: “O Yôga é a arte de unir a alma individual (jívátmam) com a Alma Suprema (Paramátmam), de unir a kundaliní-shaktí que está adormecida no múládhára chakra com Shiva no sahásrara chakra” (p. 274). Ideias relacionadas com a kundaliní e os chakras podem também ser encontradas no Budismo Tibetano, no Tauismo, no Sufismo (C. Grof & S. Grof, 1994) e no Kalarippayattu (arte marcial indiana de origem dravídica) (Maliszewski, 1996) e no Budismo Zen coreano (C. Grof & S. Grof, 1994). Contudo, não devemos confundir o satori (iluminação repentina) do Zen japonês com o despertar da kundaliní, pois existem dezenas de livros sobre a experiência suprema dos grandes mestres japoneses ao longo dos séculos: Dogen, Daito, Mûso, Takuan, Hakuin, Suzuki, etc., mais nenhum nos fala de uma subida desta energia luminosa ao longo da coluna vertebral (Descamps, 2005).
Há também indícios de que a activação da kundaliní não é um fenómeno limitado às culturas orientais. Aparentemente, o mais antigo dos símbolos da kundaliní proveio da Índia. O signo hindu da kundaliní representa-a como um bastão central (a nádí sushumná, que corresponde à coluna vertebral), com duas linhas sinuosas laterais (as nádís idá e pingalá) que sobem serpenteando até à altura da cabeça. Inseridos na haste central estão os 7 principais dos chakras primários, representados por sete círculos. Este símbolo foi aborvido pelos gregos (caduceu de Hermes, ou de Mercúrio, para os romanos), judeus (Árvore Sephirotal) e cristãos (Santo Graal) (ver DeRose, 2007).
Em África, as danças do povo bosquímano !kung, que habita o deserto do Kalahari, a noroeste do Botswana, têm como finalidade “esquentar” uma força cósmica de cura chamada n/um (literalmente: remédio) que se encontra na base da espinha. Esta força é passada de uma pessoa a outra por meio de um contacto físico directo, de modo a atingir !kia, o estado de transcendência. Este povo realiza regularmente rituais que duram toda a noite, nos quais as mulheres sentam-se no chão, batucando, e os homens andam em círculo, com movimentos rítmicos monótonos. Uns após outros, os participantes entram num profundo estado modificado de consciência, associado à libertação de emoções fortes, tais como: a raiva, a ansiedade e o medo. Em geral, são incapazes de manter uma posição vertical e são acometidos por violentos tremores. Em prosseguimento a essas experiências dramáticas, eles entram em típico estado de êxtase (C. Grof & S. Grof, 1994; Katz, 1973; Sannella, 1992). Conceitos semelhantes à kundaliní e ao sistema dos chakras também existiram entre as tribos indígenas norte-americanas. Os hopis, por exemplo, imaginam centros de energia que se parecem muito com os chakras (C. Grof & S. Grof, 1994). Também é difícil acreditar que o fenómeno do despertar da kundaliní fosse desconhecido na Europa pré-moderna, considerando-se o fascínio que a Alquimia e a Magia desfrutavam desde longa data. Podemos nós acreditar com seriedade que os antigos druidas ignoravam essa força? Ou que os místicos da cristandade antiga e medieval nunca experimentaram este fenómeno (Sannella, 1992)? De acordo com Eliade (1954, 1989), a kundaliní corresponde ao poder sagrado experimentado como um calor extremo nas iniciações militares. Para este autor, vários termos do vocabulário “heróico” indo-europeu (e.g., furor, ferg, wut, ménos) exprimem justamente esse “calor mágico” e essa cólera que caracterizam, nos outros planos da sacralidade, a incorporação do “poder”; tal como um yôgin (praticante de Yôga) ou um xamã (adepto do Xamanismo), o jovem herói “aquece” durante um combate iniciático. Além disso, segundo Weil (1977), o próprio símbolo da Medicina convencional, a serpente de Hipócrates, é nada mais nada menos que, a kundaliní. Assim, segundo Satyananda (1984), há muitas pessoas que podem despertar a kundaliní. Não somente santos e saddhus (praticantes de Yôga que renunciaram à vida profana), mas também poetas, pintores, guerreiros, escritores, etc.
Quem tornou disponíveis as informações acerca da kundaliní junto a grandes audiências ocidentais de forma geral e popular, foi o indiano Gopi Krishna (1903-1984), fundador da Kundaliní Research Foundation, Ltd. (S. Grof & C. Grof, 1995). Na sua opinião (Krishna, n.d.):
Esse mecanismo, conhecido como kundaliní, é a verdadeira causa de todos os fenómenos espirituais e psíquicos autênticos, é a base biológica da evolução e do desenvolvimento da personalidade, a origem secreta de todas as doutrinas ocultas e esotéricas, a chave mestra para o ainda não resolvido mistério da criação, a fonte inesgotável da filosofia, da arte e ciência, e o manancial de todas as crenças religiosas, presentes, passadas e futuras. (p. 199)
Sivananda (1953, 1956, 1986) realça que nenhum samádhi é possível sem despertar a kundaliní, que se encontra latente na base da coluna (múládhára chakra). Sivananda (1953) escreveu: “Até um vêdantin (um estudante do Jñána Yôga – Yôga do conhecimento) para conseguir o jñána nishtha (esclarecimento), só mediante o despertar da kundaliní que está adormecida no múládhára chakra. Não é possível o estado supraconsciente ou samádhi sem despertar esta energia primordial, quer se trate de Rája Yôga (Yôga mental), Bhakti Yôga (Yôga devocional), Hatha Yôga (Yôga do esforço físico violento) ou Jñána Yôga” (p. 128). Por isso, Muktananda (1994b) salienta que não há conhecimento mais importante do que o conhecimento da kundaliní.
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[1] A maioria das escolas filosóficas de inspiração orientalista, adopta a divisão didáctica em 7 níveis de actuação do ser humano no universo, em ordem de subtileza crescente. Desses 7 veículos de manifestação da consciência, os 4 primeiros (corpo físico denso, físico energético, emocional e mental concreto), considerados concretos, chamam-se quaternário inferior ou personalidade (simbolizados pelo quadrado); os 3 mais subtis (corpo mental abstracto, intuicional e mónada), considerados abstractos, denominam-se tríade superior ou individualidade (simbolizados pelo triângulo). Para os reencarnacionistas, a tríade é a parte que reencarna e o quadrado consome-se totalmente, entre uma encarnação e outra (DeRose, 1992).
[2] Alguns tratados referem 8 voltas em vez de 3 e meia (Eliade, 1954).
[3] Termo sânscrito que pode ser traduzido por roda ou círculo. Chakras são centros de captação, armazenamento e distribuição do prána, a energia vital. Estes centros de força estão situados em todo o corpo humano; contudo, os 7 principais localizam-se no plano médio-sagital (ao longo da coluna vertebral, intercílio e topo do crânio). De cada chakra principal partem algumas correntes (nádís) para distribuir o prána pelos chakras secundários (DeRose, 1999, 2007).
[4] Termo sânscrito que pode ser traduzido por rio, torrente ou corrente. São canais do corpo físico energético, análogos aos meridianos da Acupunctura, que vascularizam todo o corpo (DeRose, 1999, 2007).
[5] As principais nádís são idá, píngalá e sushumná; todavia, esta última é a mais importante, pois é por ela que a kundaliní deverá ascender. Corresponde espacialmente à espinal medula (DeRose, 1999, 2007). É uma nádí bipolar. É muito atrofiada no homem comum, permitindo apenas a passagem do mínimo de energia, necessário à manutenção das suas limitadas aptidões. Através da prática do Yôga a sushumná desenvolve-se, ocasionando a ascensão da kundaliní e o desenvolvimento total das faculdades pertinentes ao homem (Straube, n.d.).
[6] Segundo Muktananda (1994b), apesar de falarmos no despertar da kundaliní, a verdade é que ela já está desperta em todas as pessoas. A partir do centro do corpo, no múládhára chakra localizado na base da coluna vertebral, ela controla e mantém todo o sistema fisiológico, através da rede de 720 milhões de nádís. Kundaliní é o suporte das nossas vidas; é Ela que faz tudo trabalhar nos nossos corpos. Também para Irving (1998), embora expressões como «activação da kundaliní» ou «despertar da kundaliní» sejam usadas para descrever o fenómeno, a kundaliní, na realidade, está sempre activa no corpo. Comummente, porém, a kundaliní opera numa frequência tão baixa, que não damos conta dela. Termos como «despertada» referem-se tão só a uma activação altamente aumentada, em que a kundaliní atrai, de maneira demonstrável, a atenção do indivíduo.
[7] Termo sânscrito que pode ser traduzido por energia ou força. Por extensão, esposa ou companheira no sádhana (prática, ritual) tântrico. É também um nome ou qualidade da Mãe Divina e, consequentemente, designa também a kundaliní (DeRose, 1999). Segundo o Tantra Shakta, a energia (shaktí) no ser humano polariza-se em duas formas, a saber, a estática ou potencial (kundaliní) e a dinâmica (as forças activas no corpo, como prána). Por detrás de toda a actividade há um fundo estático. Este centro estático é o «poder serpentino» do múládhára chakra, localizado próximo da base da coluna vertebral e órgãos genitais (Woodroffe, 1978).
[8] Termo sânscrito que pode ser traduzido por tecido ou rede. Tantras são livros da Índia antiga, provavelmente de origem pré-ariana (DeRose, 1999). O termo “Tantrismo” é ocidental (Riviére, 1962).
[9] Os quatro Vêdas (Rig Vêda, Yajur Vêda, Sama Vêda e Atharva Vêda) são as mais antigas escrituras do Hinduísmo. Vêda provém da raiz vid, conhecer; pode ser traduzido como revelação (DeRose, 1999). Compreendem várias categorias de escritos cujo período de formação está compreendido entre 1400 e 400 a.C. (Eliade & Couliano, 1995).
[10] De acordo com os textos clássicos, o jívátmam, a consciência humana ordinária, isto é, a consciência de um ser encarnado e limitado, habita o chakra do coração (anáhata), enquanto o Paramátmam, a Consciência incondicionada, infinita e perfeita, habita o chakra do topo da cabeça (sahásrara) (Michael, 1979).
[11] “Transpessoal” (literalmente: “além do pessoal” ou “além da personalidade”) significa transcender o modo usual de perceber e interpretar o mundo a partir de uma posição de ego individual ou ego corporal (C. Grof & S. Grof, 1994).
[12] Na Psicanálise, o inconsciente designa o sistema que, segundo a primeira teoria proposta por Sigmund Freud (1.ª tópica), constitui o aparelho psíquico, juntamente com o sistema pré-consciente/consciente. É formado pelas pulsões e pelos materiais recalcados. Freud ao lidar com os seus pacientes, deu-se conta que havia conteúdos psíquicos (desejos, lembranças, etc.) de que o indivíduo não só não tinha consciência, como eram contrários, chocavam essa consciência e por isso eram mantidos fora dela pelo processo de recalcamento. Mais, eram esses conteúdos e a energia que lhes estava ligada (libido), que davam origem às perturbações psicológicas (neuróticas em particular), aos sonhos e aos actos falhados do quotidiano. O seu funcionamento rege-se pelo princípio do prazer. É o conceito-chave de toda a Psicanálise, ao ponto de se poder dizer que esta é, no fundo, o estudo e a abordagem dos conteúdos inconscientes (Pestana & Páscoa, 1998). Mas, para Jung (1995), ex-discípulo de Freud, o inconsciente pessoal nada mais é do que uma camada que assenta numa base de natureza inteiramente diversa: o inconsciente impessoal, suprapessoal ou colectivo. A razão desta denominação está na circunstância de que, ao contrário do inconsciente pessoal e das suas imagens meramente pessoais, os conteúdos do inconsciente mais profundo (os arquétipos) são de natureza nitidamente mitológica e são totalmente universais. Isto significa que essas imagens coincidem, quanto à sua forma e ao conteúdo, com as representações primitivas universais que se encontram na raiz dos mitos. No entanto, isso não quer dizer, em absoluto, que essas imaginações sejam hereditárias; hereditária é apenas a capacidade de ter tais imagens, o que é bem diferente.