Círculo de Leitura 28/08/2020

Os meus amados gregos, depois os romanos, iniciaram um processo de racionalização do mundo, que veio a culminar no monoteísmo, afastando os seres humanos de uma realidade supra-sensível, em prol de um torpor resultante uma promessa de salvação eterna.
A ponto de, por volta do século das Luzes, pelo menos no Ocidente, a iniciação resultar tão só em rituais vazios de significado interno, vazios de transformação e alteração da visão do mundo daquele que supostamente era iniciado. A iniciação passou a ser, apenas, um rito de passagem, em que o candidato, após cumprir os pré-requisitos, passou a ser aceite na estrutura corporativa da irmandade aonde se candidatava. É a Maçonaria e os Rosacrucianos que mais contribuem para uma adulteração do processo iniciático, através de formas teatrais, com muito simbolismo, mas com pouca capacidade transformadora. Aquilo que na Antiguidade se chamava de Mistérios (o conhecimento que está para lá da aparência, o que permitia ao ser humano contactar com uma realidade que o ia alterar indelevelmente), foi arredado da maior parte das estruturas iniciáticas. A tal ponto de, no último quartel do séc. XX, algumas correntes new age proporem a auto-iniciação.
O que significava a iniciação nos tempos antigos?
É necessário afirmar que a iniciação, não se +esgota num acto. É um processo contínuo de transformação, de mutação.
Sabemos hoje, que a iniciação, nos tempos antigos, implicava sempre um descer. Aos abismos, como vos digo, às profundezas da mente. Mas também aos reinos da morte. Onde a escuridão, por associação à Senhora, à Deusa, à Lua, reinava soberana. Onde, após esse mergulho, muitas vezes enlouquecedor e doloroso, o iniciado voltava, pelo efeito redentor da luz. Luz do fogo, luz da kundaliní. Nessa descida, o iniciado deve viver a aniquilação dos seus ancestrais, mas também a própria. Assim acontece com os cereais, nas sociedades agrárias, mas também com o metal dos ferreiros, esses grandes demiurgos, que como nós, trabalham e forjam com o fogo. Que, como nós, malham, transformam, moldam o metal, assim como nós fazemos ao corpo, à respiração, às emoções, à mente, para no fim, obterem um metal de especial pureza e qualidade, para no fim obtermos um ser ontologicamente superior, um ser com acesso ao canal intuitivo.
Este processo não é teórico, nem somente simbólico. É um real processo de transmutação, de disciplina continuada, de interferência do guru na vida, na mente, na maneira de ser e de estar do discípulo. O guru, deve, como o ferreiro, malhar, dobrar, submeter ao fogo. E só assim o discípulo se transmutará na lâmina afiada de que a Upanishad fala. Há, tem de haver, uma dimensão vivencial na experiência da iniciação. De outro modo não é real, de outro modo é falsa. E tem de a haver, mesmo nos aspectos menos bons, ou menos agradáveis, ao discípulo. Não basta o aspecto litúrgico, as palavras e as teorias do guru, que se ouvem e se consideram muito bonitas, tal como os católicos fazem em relação às homilias do padre. Há que mergulhar no lado esotérico e mágico da transformação pelas mãos do mestre. Transformação que muitas vezes tem início no ashram, continuidade nas florestas, nas montanhas, nos rios, na percepção das forças e das energias que aí, esquecidas de quase todos, ainda se manifestam. Transformação que ocorre pela acção directa do mestre. Pela interacção do discípulo com este, pelas práticas orientadas por este, pelas práticas propostas por este. Muitas vezes práticas profundas, de grande interferência com a maneira de ser do discípulo, mas que têm como fito modificá-lo, levá-lo mais longe no marga do Yôga Shakta/Sámkhya. Práticas que não devem ter um cariz redutor, interacção que não cessa só porque a prática terminou. Pois a interferência, a acção transformadora, deve ter continuidade em todos os aspectos da vida do discípulo. A acção iniciática tinha, na antiguidade, e tem hoje, quando é autêntica e não apenas litúrgica, a finalidade de preservar a clarividência intuicional. O processo iniciático é, ou deve ser, um mergulho nas entranhas, nas profundezas da mente e da terra e nas suas energias. Porque somos shaktianos, mergulhamos primeiro nas trevas, reino da deusa, reino da Senhora, reino da mãe. Só depois ascendemos à luz. Também por isso preferimos a penumbra da floresta, também por isso fazemos as nossas práticas, no ashram, com as cortinas cerradas e as luzes apagadas. Como se adentrassemos a caverna, ou retornássemos ao útero materno. E o que é o tão decantado hiranyagharbha, ou a caverna, a não ser úteros? O primeiro cósmico, o segundo da terra?
A iniciação autêntica leva à tomada de consciência das energias que se manifestam através do corpo e catapultam-nas, num processo ascendente, para a consciência alargada. O iniciado procura conhecer no corpo a trama dos tecidos, mas também a textura da pedra. Por isso vos tenho sugerido que façam a V. coreografia em cima das pedras. O processo iniciatório autêntico passa pelos Mistérios (vide, por todos, Mircea Eliade), palavra que significa “fechar a boca”, que significa “manter silêncio”. Ora, estamos, com este conceito tão perto do grande ensinamento “os que falam não sabem, os que sabem não falam”. São mistérios, na terminologia grega, mas reparem como estamos perto de gupta vidya (conhecimento secreto), ou de amnaya (misterioso – provindo esta palavra de mistério). Reparem também, como nos remete para outros aspectos. O iniciado, o que vivenciou a experiência transformadora, não tem como expressar por palavras, do discurso racional-intelectivo a sua experiência. Todavia é um testemunho correcto, como Patañjali o indica. E o testemunho correcto é a melhor forma de conhecimento erróneo. É correcto para o que teve acesso directo à experiência, é testemunho, ou seja, a vivência de outro, para aquele a quem a experiência é descrita. Também por isso o mistério – manter o silêncio.
Um outro aspecto também a ter em linha de conta, quando se fala em conhecimento misterioso (amnaya), ou seja, conhecimento sobre o qual se deve manter silêncio, é a moral vigente. O iniciado deve confrontar-se com a moral e com os valores morais que lhe foram incutidos pela sociedade em que está integrado, e que aceitou como bons. Também aí deve pô-los em causa, e num processo de auto-superação, tantas vezes doloroso, penoso, pois entra em linha de conta a noção de pecado e o sentimento de culpa. Nesse processo o iniciado deve por de parte essa moral, transmutando-se também no que lhe foi inculcado como sendo absoluto, natural. Mistério, manter o silêncio, pois se formos discretos, quase tudo nos será permitido. Se formos exuberantes, seremos apedrejados.
Os que um dia são tocados, não mais voltarão a ser os mesmos, ainda que abandonem o caminho, ainda que se afastem do Yôga, ainda que abjurem o mestre. Pois num processo de transmutação propõe-se ao iniciado que morra, que saiba morrer e regressar, regenerado, transformado, da morte. Por isso também é o nascido duas vezes. Não falamos em termos simbólicos. O iniciado transforma-se na sua mundivisão, onde até a sacrossanta moral instituída se modifica no interior deste. Mas não paramos nós o corpo (ásana), como se este estivesse morto? Não cessam os pulmões de respirar (kúmbhaka – shúnyaka)? E não paramos a mente, os seus turbilhões, o pensamento (dhyána)? E para o fazermos não retiramos os sentidos do mundo (prátyahára)?

Círculo de Leitura 24/08/2020

Hoje abordarei a não democraticidade da inicia-ção e do caminho iniciático e da relação Mestre/Discípulo.
Julius Evola, no seu livro Le Yôga Tantrique, refere que a ciência, a técnica, são democráticas. Têm uma estrutura, intrínseca, de organização e de transmissão do conhecimento democrática. Qualquer um, medianamente inteligente, consegue ir à Universidade e fazer seus os conhecimentos actuais. Uma pistola produz o mesmo efeito nas mãos de um idiota, de um soldado, de um polícia ou de um chefe de estado. E a qualquer um deles é possível transportá-los de avião, no mesmo número de horas. Mas assim já não é com o conhecimento iniciático. No âmbito da ciência estamos no plano ontológico do ser humano. E aí, os princípios são os da igual dignidade. Porém o homem é qualquer coisa que pode ser ultrapassada, como ensinou Nietzche. A transcendência da condição humana, objectivo das disciplinas da auto-superação, como a nossa revolução cultural, conduz o sádhaka a um estado existencial e ontológico (ontos – ser, logos – fogo; ciência; estudo). Ou seja, a um estado de ser superior ao do ser humano comum, consequência da superioridade de uma evolução que leva a que o yôgin seja um mutante, por comparação com o resto da humanidade. Ora, o calor, o despertamento, da kundaliní, os siddhis que com isso se manifestam, são pessoais, intransmissíveis e não democratizáveis. E isto, esta profunda diferença, é a divisão fundamental entre a tradição e a modernidade. Pois a diferença real entre os seres é a base de um conhecimento e dum poder inalienáveis, não comunicáveis, logo, exclusivos e esotéricos pela sua própria natureza e não por artifício, pois trata-se de um culminar de um desenvolvimento excepcional, que não se pode partilhar com toda a sociedade.
Nesta sequência, René Guenón, o grande orientalista francês da primeira metade do séc. XX, estabeleceu, para classificar uma fraternidade, um círculo interno, como detentora de autênticos processos iniciáticos, três características que se devem observar:
1- Necessidade de uma genuína qualificação interna dos seus membros
2- Necessidade de uma transmissão do saber esotérico e de auto-aperfeiçoamento interior de cada um dos membros
3- Necessidade de actualização activa subsequente, pelo es-forço individual
Tais exigências devem-se ao facto de a iniciação não ser um mero ritual de passagem que celebra a aceitação numa fraternidade – por isso te fui alertando para o erro em que laboravas do “nós”, por contraponto a “mim”. Há “nós”, sim, mas com genuína qualificação interna dos seus membros e depois com a individual “actualização activa subsequente”. A iniciação é muito mais do que ser aceite num grupo. É, e pretende ser, um processo transformativo, de mutação, de auto-superação, que começa com um influxo energético, polarizado, pelo Mestre, proveniente dos domínios transcendentes e exercendo os seus efeitos ao nível dos corpos subtis. Porém, o que se envolve no processo iniciatório, deve ultrapassar-se também em provas físicas (vês aqui outra razão para a coreografia?) e ser corajoso. (…) O iniciado para vencer as provações e receber o conhecimento do Mestre, deve desenvolver, entre outras, as seguintes qualidades: saber, querer, ousar e calar.
A iniciação foi sempre reservada a alguns e nunca aberta a toda a gente. O impulso iniciatório transmuta o seu humano, se este não o detiver. Uma tradição iniciática usa tudo o que não é racional como elemento de transformação: o cor-po; os desejos; as pulsões; a imaginação; a clarividência; a emoção; a intuição. Pois o processo só pode iniciar-se e ter continuidade de fora para dentro, do Mestre para o discípulo.

Círculo de leitura de 24/07/2020

ORIGENS – Súrya namaskára
O Súrya namaskára foi criado há milhares de anos, na civilização do Indo-Saraswatí, entre o povo drávida. Alguns autores ocidentais, erradamente, atribuem ao Súrya namaskára uma origem próxima, na Idade Média. Laboram em erro. As origens do desta antiga prática radicam na própria origem do Yôga. Ensina Satyánanda que
“As origens do Súrya namaskár datam de antes das mais antigas épocas da história quando os seres humanos pela primeira vez tomaram consciência da existência de um poder espiritual existente dentro deles e que se encontra também no universo material. Esta consciência é a fundação do Yôga.”
Ainda segundo Swami Satyánanda
“A adoração e veneração do sol foi uma das primeiras e mais naturais formas de expressão interior. A maior parte das antigas tradições incluem formas de adoração do sol, incorporando vários símbolos solares (…).”
E, de modo inquestionável, o ilustre Mestre, explica que
“Este grupo dinâmico de ásana não é entendido como sendo uma parte tradicional das práticas de Hatha yôga, uma vez que só foi adicionado mais tarde ao grupo de ásana definidos inicialmente.”
No mesmo sentido, declara António Blay, conhecido mestre de Hatha Yôga, que “o Súrya namaskár não é propriamente um exercício do Hatha Yôga.”
TEORIA GERAL
Começamos por indicar o que significa súrya. É uma das palavras do sânscrito, uma língua morta, muito antiga, indo-europeia, que designam o Sol. O sânscrito é também a linguagem técnica do Yôga. Namaskára significa saudação.
Súrya é o fogo que aquece e ilumina, mas que também cega e queima. Dá vida e destrói. Da fusão entre o oceano e o sol surgiu a vida. Pois esta obtém a sua energia de Súrya, o grande dispensador de vida.
Súrya tem dois aspectos:
O primeiro como Súrya: É o que aquece, mas é o que queima. É o que ilumina, mas é o que cega. É o que dispensa vida, mas é o que destrói.
O segundo aspecto é Savitur: É o poder de dar vida. É o poder básico motivante para a auto-superação. É também o sol que se pode olhar, ao nascente e ao poente. É a este poder inspirador da auto-superação que o Gáyatrí Mantra se dirige.
Shrí DeRose apresenta esta bela tradução :
ÔM bhúr bhuvah swaha, Em todos os planos da criação,
ÔM tat Savitura varênyam. sejamos como o Sol,
bhargô dêvasya dhímahi. esplendorosos como deuses.
dhiyô yô naha prachôdayátô. Que isso estimule nossas
mentes.
A tradução apresentada é a mais consentânea com o Dakshinacharatántrika-Niríshwarasámkhya, as raízes filosóficas da nossa ancestral tradição. Decompondo:
o ÔM – O mais importante dos mantras, o próprio corpo sonoro do Absoluto.
o Bhúr – terra, o plano físico.
o Bhuvah – atmosfera, o plano intermediário entre a terra e o céu.
o Swaha – luz, céu, espaço.
o Tat – aquele.
o Savitura – genitivo de Savitri, estimulante, nome de uma personalidade mitológica ligada ao Sol;
o Varênyam – desejável, excelente.
o Bhargô – esplendor.
o Dêvasya – digno dos deuses.
o Dhímahi – possamos nós alcançar.
o Dhiyô – pensamento, meditação, devoção.
o Prachôdayatô – estimular, pôr movimento.
Há muitas variantes de Súrya namaskára. Seguidamente apresentamos a forma base que adoptamos como a forma estilo da nossa linhagem e assim definida por Shrí DeRose . Acrescentámos o nome de cada uma das posições, assim como a numeração, em sânscrito.
O Súrya namaskára pode ser olhado a partir de três principais componentes:
Forma: A ordem sequencial dos doze ásana que compõem esta prática é a sua matriz que permite autonomizá-la e distingui-la de outras coreografias.
Energia: A sua prática estimula a absorção e circulação de prána a nível dos corpos físico e energético, agindo, pelo acréscimo energético sobre o funcionamento dos corpos emocional e mental, preparando o caminho para o intuicional. E regula, especificamente, o funcionamento de píngala nádí.
Ritmo: A prática de Súrya namaskára deve ser feita com ritmo. Veremos à frente, alguns dos ritmos possíveis. Deve, no entanto, deixar-se a nota de que algumas escolas de Yôga associam cada uma das posições a uma casa do Zodíaco, entendendo que, dessa forma, o ritmo expresso no Súrya namaskára é um ritmo cósmico.
Cumpre tecer ainda alguns comentários sobre o Súrya namaskára, no sentido de melhor se compreender o seu fundamento e simbolismo, de acordo com os preceitos do Tantra/Sámkhya. Fá-lo-emos vivenciando esse simbolismo no corpo com a execução do Súrya namaskára.

Círculo de leitura – 22/05/2020

Do livro do Mestre João Camacho, Yantra. A estrutura do Cosmos
Yantra é uma representação gráfica, drasticamente reduzida, do universo. Yantra significa ‘instrumento’, ‘recurso’ ou ‘tramóia’. O Kularnava Tantra descreve o yantra como aquele que salva, trayatê, todos os seres do medo e do próprio Yama. A palavra yantra deriva da raiz yam ou ainda da palavra yantrati ou yantrayati. O significado destas duas últimas palavras é: ‘conterá’, ‘obrigará’, ‘dirigirá’. Yantra também significa artefacto, aparelho, máquina. Assim, a pedra do moinho, a mó, é yantrapala. A marionete que se move por cordas é yantra putrika. A palavra yantra também designa aparelhos cirúrgicos, tal como consta no Susruta-samhita, um tratado de medicina cirúrgica. Por sua vez, a palavra yantranam significa ‘protecção’, ‘guardar’, ‘atadura’, tal como consta do mesmo tratado. Etimologicamente é composta por yan, ‘suporte de energia’ , e tra, ‘instrumento’.
Os yantras são tão antigos quanto a emergência do pensamento mítico e simbólico, que foi a primeira forma de o ser humano abordar, compreender e explicar o real e encerram os princípios do tantrismo. Constituem excelentes objectos de meditação e são utilizados na magia tantrica hindu .
Alguns yantras, como o ÔMkara, são de estrutura muito simples. Outros, como o Shrí Yantra, são de estrutura muito complexa.
Os yantras também foram usados com intenções mágicas que consistiam, v. g., em afastar o mal, vencer os perigos, erradicar a peste, impedir as tempestades, aumentar a fertilidade da terra, entre outros.
A palavra magia significa, originalmente, a sabedoria dos sábios orientais. A palavra magus ou magi refere-se aos membros da classe sacerdotal persa. Supõe-se que a palavra deriva do termo sânscrito magha, que significa uma dada classe de pessoas, mas também grande riqueza proporcionada por Indra, o rei dos deuses do panteão védico; é neste sentido que a palavra é utilizada no Rig Vêda. Magha também designa quem possui riqueza em abundância e uma grande riqueza é designada por maghavan. Ora, a palavra magha está relacionada com mahat um dos princípios do sámkhya. Mahat, o grande, é a consciência indiferenciada, por oposição à consciência individualizada, o ego, ahamkara e consciência objectiva, manas. Assim, pretende a magia compreender a dinâmica da consciência e utilizá-la. A magia é uma arte tradicional essencialmente prática e utilitária . Enquanto outros caminhos pretendem elevar o ser humano ao nível da consciência indiferenciada, a magia procura baixar esse plano superior ao nível do quotidiano.
Ao nível da metodologia da nossa tradição ancestral e, em concreto, do tantrismo, repare-se nos chakra, centros energéticos de um mundo abstracto, invisível, subtil, a manifestarem-se no corpo concreto. Ao nível do desenho subtil dos corpos de cada ser humano, o Shrí Chakra é um mapa do cosmos abstracto existente dentro do corpo físico.
O yantra é, para o próprio tantrismo, um poderoso instrumento mágico. O yantra é uma representação visual das energias, forças, vectores que operam no corpo e no cosmos. O mesmo é dizer, no micro e no macro cosmos. Se o mantra utiliza os símbolos sonoros, verbais, o yantra utiliza os visuais. No yantra todo o mundo visível é reduzido às suas essências e às unidades fundamentais, como o ponto, o círculo, o triângulo, o quadrado, etc… O yantra é utilizado no tantrismo como um instrumento de concentração e visualização.
O poder protector do yantra tem a ver com o seu desenho. Cada yantra é auto-suficiente, contém-se a si mesmo, e está protegido contra influências externas pelas linhas que rodeiam o desenho principal – repare-se, por exemplo, na utilização que a magia dá ao yantra, o círculo mágico.
No yantra o seu ponto central (bindu) é o aspecto focal da energia. É o ponto de mais intensa concentração de energia. O ponto está rodeado de sucessivos recintos, linhas, triângulos, quadrados, que representam distintas modalidades de energia. A intersecção de formas simples, como linhas, quadrados, triângulos, é considerada mais poderosa. E os espaços formados por essas intersecções são campos especiais de operações de energia. O poder do yantra pode ser potenciado com o mantra adequado.
João Camacho