Texto do Círculo de leitura – dia 26 de Outubro de 2018
AZUL
1.Profundidade.
O azul é a mais profunda das cores. O olhar perde.se na profundidade do azul. Não encontra obstáculo algum e vai até ao infinito. Tal cor suaviza e desfaz formas. Uma superfície azul deixa de o ser. As formas e os movimentos perdem-se no azul, confundem-se com a própria cor. Já não sabemos se é o movimento que produz um efeito se é o azul que se move. É uma cor que desmaterializa tudo o que a ela se liga, que com ela se envolve.
2. Imaterialidade
O azul é a mais imaterial das cores. Na natureza surge feito de transparência, de vazio que se acomula, imaterial e, em simultâneo, denso. De densidade subtil e suave, como o vazio do ar, como o vazio da água, o vazio do cristal, ou o vazio do diamante. Surge, como o vazio em que se organiza, puro e frio. Na sua imaterialidade o azul é a mais fria das cores e, só perdendo para o branco, é, no seu valor absoluto, a mais pura das cores.
Pela sua profundidade é cor que absorve e sintetiza as contradições, as alternâncias, o ritmo da vida. O azul não é deste mundo, o azul contem em si a sugestão de eternidade, do sobre-humano. Sugere um movimento dirigido para o seu próprio cetro. Por isso, um ambiente azul transmite tranquilidade, mas não tonifica, não estimula, ao contrário do verde (por isso, também, em tempos usámos o azul turquesa, que, como saberão, é composto de azul e verde). O azul fornece como que uma evasão sem apoio no real, uma fuga que pode conduzir à depressão. Se o verde, igualmente profundo, dá a dimensão das coisas terrenas e do contentamento, o azul remete-nos para a solenidade e para o supraterreno. Mas também para a ideia de morte. É a cor da verdade, com que os egípcios, nas suas necrópoles, revestiam as cenas onde representavam o julgamento dos que se finavam. O azul é limiar.
Na Mesopotâmia o azul, na tonalidade lápis-lazúli, representava o outro lado da abóbada celeste. No cristianismo é de azul o manto que cobre, muitas vezes, a madona, mãe do menino.
3. Síntese
Quando olhamos o horizonte (e, nós que vivemos em Portugal podemos fazê-lo, como os asiáticos nas estepes horizontais o fazem. Podemos fazê-lo quando olhamos o mar, mas também, na planície alentejana), verificamos que o céu e a terra estão face a face.
O azul exprime o desprendimento em relação aos valores deste mundo, em direcção ao ouro da transcendência.
A safira, talvez a mais intensa das pedras preciosas, no seu azul, remete-nos para uma transcendência sublime. Na tradição hindu, Meru, o monte sagrado que já conhecem, tem uma face safira. E o azul dessa face tinge a atmosfera de azul, daí a cor do céu, que provém do monte da imortalidade.
O azul é, também, nalgumas tradições, a cor do dragão. Também de azul violáceo é Shiva representado em muita da iconografia indiana.
Pelo que tem de imaterial, o azul já foi usado, nalgumas tradições, como símbolo da renuncia e da passividade absolutas.
Safira azul – É uma das pedras mais duras que existe. É também entre as pedras preciosas, uma das mais apreciadas pelos iniciados. Dizem ser pretectora para aquele que a porta e que o seu azul evoca os reinos celestes a que os grandes iniciados se elevam.
OURO
O ouro é o mais puro dos metais e o mais perfeito. Na tradição indiana é a luz mineral. Tem natureza ígnea, solar e real. O ouro, dizem os bráhmanes, é a imortalidade. O ouro é a tradução metálica da vibração original. é como se fosse a reverberação do som matricial, ÔM, mas materializada. A sua materialização subtil tem concretização cosmológica na serpente da eternidade – Sêsha – a serpente com o rabo na boca, que simboliza a espiral de conhecimento. Mas que, noutras tradições, envolve a terra para que esta não se desintegre – Ragnarok, a serpente, que no fim dos tempos, ao acordar mexer-se-á e destruirá a terra, Midgard.
Um colar de ouro, transmitido, oferecido, por um iniciado, tem a função de transmissão de palavras transcendentes e poderosas, pois como metal da eternidade, comunga da capacidade criadora do verbo. O ouro simboliza o conhecimento esotérico, o conhecimento alquímico. Contem em si a ambivalência do sagrado e do imundo.
O ouro é uma arma da luz. Apolo, deus do sol, revestia-se de ouro – armadura, túnica, fivelas, lira, arco, aljava, etc….
Para os egípcios o ouro era a care do sol. O ouro-cor (dourado), o ouro-metal, são sim bolos solares.
PRATA
A prata está relacionada com a lua. Faz parte da cadeia simbólica de lua, água, princípio feminino. Se o ouro é princípio solar, masculino, a prata é princípio feminino, lunar, aquoso, frio. A cor prata é o branco. Em latim, prata diz-se argentum, que, derivando do sânscrito, significa branco e brilhante. Segundo a tradição do antigo Egipto, os deuses têm os seus ossos de prata. Pelo que tem de branco, comunga do valor absoluto desta cor, do que esta tem de pureza infinita. De toda a especie de pureza. É a luz pura, tanto do crista , como da água limpida, como dos reflexos do diamante. Remete-nos para a limpidez da consciência para a pureza das intenções.
Simboliza a água purificadora. Se o fogo e a água purificam, o ouro e a prata são a materialização daqueles elementos. Os objectos de prata, pessoais, escurecem quando o seu proprietário está em perigo.
VERDE
O verde fica entre o amarelo e o azul. Se faz a síntese cromática entre estas cores, na verdade, em termos simbólicos é com o vermelho que o verde se contradiz ou, talvez se funde. Repare-se na bandeira nacional, ou na rosa vermelha que floresce entre as folhas verdes. O verde fica entre os ceus e os infernos, o seja, entre o azul celeste e o vermelho do fogo dos reinos infernais. Resultando, para o verde, o símbolo de representar a mediação entre o que está em cima e o que está em baixo. Entre os céus e os infernos, entre o calor e o frio. É verde o manto com que a terra se reveste, na Primavera, após o degelo. Verde é a cor das águas primordiais, na tradição hindu. Vishnu carrega o mundo, na forma de uma tartaruga verde.
Se o vermelho é a cor do fogo, o verde é a cor da água. O verde é a cor da esperança, da força, da vontade, da longevidade. Mas também o é da imortalidade. O jade imperial, verde, o simboliza. Na tradição chinesa é o Imperador de Jade, que reina no palácio de Jade, sobre todos os deuses e imortais que existem.
O equilíbrio entre verde e vermelho é o do homem e o da natureza.
O verde simboliza um conhecimento profundo, oculto, das coisas e do destino. Mas a virtude secreta do verde, vem de ele conter em si o vermelho. Isto o sabem os alquimistas que referem que toda a obra provém do facto de o princípio ígneo, masculino, animar o princípio húmido, feminino. Na tradição egípcia, Osíris, o verde (que segundo Daniélou é uma outra representação de Shiva), foi morto e o seu corpo cortado aos pedaços que foram espalhados por todo o Egipto e parte deles lançados ao Nilo. Osíris vem a ser ressuscitado pela magia de Ísis, a vermelha. Osíris, não obstante as razões trágicas da sua morte, acaba por se transmutar num Grande Iniciado, pois conhece, desta forma, o mistério da morte e do renascimento. Nocimo da terra, como verde, preside à Primavera e ao renascimento da vida. Nos infernos, como vermelho, jukga as almas dos mortos. Pérsefone, a verde, nos campos na Primavera, é a senhora da renovação primaveril e da fertilidade, deusa lunar. No Outono regressa aos infernos, onde, com o coração vermelho partilha do fogo interior.
O verde, par os alquimistas, é a luz da esmeralda, capaz de penetrar os maiores segredos. Mas se a luz verde tudo penetra, então tem uma significação ambivalente – pode transportar consigo a vida, mas, seguramente, também a morte. E repare-se, há o verde doss rebentos primaveris da renovação da vida; mas também há o verde do mofo e da putrefacção. Verde da vida um, da morte outro.
O verde, como todo o símbolo feminino contém algo de maléfico e de nocturno. Na tradição cristã, se a esmeralda é, por excelência, a pedra do Papa, também a de Lúcifer, antes da sua queda, quando era o comandante supremo das legiões de anjos, quando era o anjo da luz.
Para os alquimistas o fogo secreto e luminoso é verde. No esoterismo mais sapiente e mais profundo o fluído da própria vida surge vermelho, guardado num recipiente verde. Verde é também o sangue misterioso da mais ígnea das criaturas – o dragão. Também na tradição cristã, verde, esmeralda, ou de cristal verde é o Santo Graal, que contém o sangue de Cristo.
O verde abre a porta à transcendência. É a cor do que é profundo e do que se estende pela eternidade.
Jade – Esta pedra tem a capacidade de conectar um iniciado com o todo. Permite-lhe uma ligação continua com a erra e com as suas energias e vibrações, aumentando a consciência de integração e sensibilidade ao que o rodeia.
Pedra de sangue- Esta pedra é de cor verde com pequenas manchas vermelhas. É uma pedra comum na Índia. É considerada uma pedra preciosa de grande valor e com grande tradição na magia.
Mestre João Camacho